PERMANECEI NO MEU AMOR

Como meu Pai me ama, assim também eu vos amo. Permanecei no meu amor. Se observardes os meus mandamentos, permanecereis no meu amor, assim como eu observei o que mandou meu Pai e permaneço no seu amor. Eu vos disse isso para que a minha alegria esteja em vós, e a vossa alegria seja completa”. (Jo 15,9-11).

 

Em nossa última partilha sobre o “discipulado como caminho de bons frutos”, compreendemos que o “ser discípulo e o produzir frutos” dependem de uma única atitude: permanecer em Jesus. O Pai é o viticultor que poda os ramos e os purifica para que deem fruto e, consequentemente, à medida que os discípulos produzem fruto, o Pai é glorificado. Vimos que a glória é o amor do Pai que se manifesta na ação dos discípulos de Jesus que continuam trabalhando em favor do homem (5,18) para que todos possam em Cristo serem restaurados (3,16). Por isso, a nossa vida em comunidade sobreviverá se produzir muitos frutos (15,5) para que Deus seja glorificado e tenha a sua primazia em cada passo da nossa vida. Como o Pai é glorificado na obra do Filho (13,31), o Filho também será glorificado pelo fruto dos discípulos.

“Como meu Pai me ama, assim também eu vos amo. Permanecei no meu amor”. Com essa expressão, Jesus revela que o perfeito amor que ele recebe do Pai é o mesmo amor com que Ele ama os seus, como algo completo. Seguir a Ele, tornar-se um dos seus e imitá-lo significa entrar numa dimensão de amor com limites inimagináveis, porquanto se experimenta diretamente o amor de Deus (o Pai), do qual Jesus é a tradução desse amor e o modelo humano compreensível para toda a humanidade. Portanto, o produzir frutos significa amar como Ele amou. Jesus é o espelho fiel do amor do Pai revelado nas consequências extremas do dom de si pelo outro: “ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida pelos seus” (15,13). Se um dia experimentamos os efeitos do amor de Cristo, não se pode imaginar uma vida vivida no egoísmo, na indiferença, no engano, na arrogância, no ódio ou na vingança. Quando Jesus elege e acolhe os discípulos, transmite-lhes o próprio amor do Pai, que o permeia e o impele a trabalhar (17,26) para que todos os homens experimentem e vivam esse amor.

Em Jesus, encontramos a personificação do amor de Deus que supera e aniquila a mesquinhez dos homens de nossos tempos, aceitando até ser rejeitado sempre pronto a acolher de novo aqueles que se comportam como os filhos pródigos, desertores e rebeldes, como podemos identificar na parábola do Pai Misericordioso em Lc 15,11-32. Jesus insiste com todos nós: PERMANECEI EM MEU AMOR.

“Se observardes os meus mandamentos, permanecereis no meu amor, assim como eu observei o que mandou meu Pai e permaneço no seu amor”. O verdadeiro amor de cada ser humano por Deus (o Pai), manifesta-se através da observância aos mandamentos de Jesus, que se resumem num mandamento simples e fundamental, o mandamento do amor fraterno: “Que vos ameis uns aos outros; como eu vos amei a vós, que também vós uns aos outros vos ameis” (13,34). Os homens amam e são amados por Deus ao amarem-se uns aos outros como Jesus ama e é amado pelo Pai, até à última consequência. O amor fraterno assume a força de uma ordem, de um mandamento querido por Deus a todo o custo, a tal ponto que o julgamento divino final incidirá exclusivamente sobre o conteúdo e o exercício do amor (cf. Mt 25,31-46) e não sobre as opiniões políticas, a pertença a grupos e associações, ou o que quer que seja. O Evangelho não sugere aos homens qual o ideal político a seguir ou qual o modelo socioeconômico a realizar, mas impõe escolhas de amor fraterno entre os homens. As ideologias filosóficas ou políticas, os modelos sociais e econômicos e todas as atividades humanas que contradizem ou impedem este “mandamento divino e fundamental” seriam contrárias à vontade de Deus e à plena realização do homem.

A atitude de obediência ao mandamento de Jesus é a condição para permanecermos no amor de Jesus, uma condição indispensável para dar substância e peso ao amor entre os homens. Sem Jesus, o amor humano, mesmo sendo amor aparentemente generoso e ardente, corre o sério risco de arrefecer-se nas primeiras dificuldades. Entre o dizer e o fazer, há sempre o clássico mar profundo e tempestuoso da fragilidade e da fraqueza humanas, no qual as boas intenções se afogam regularmente. Desse modo, nossa obediência tem como fonte o nosso amor a Jesus, como demonstração de um amor perfeito que reside entre o Pai e Jesus e seus discípulos.

“Eu vos disse isso para que a minha alegria esteja em vós, e a vossa alegria seja completa”. Jesus não prometeu apenas a sua “paz” (14,27), mas também a sua “alegria”. Se os duros esforços pela obediência parecerem sombrios e tristes, Ele insiste que sua própria obediência ao Pai é a base de sua alegria, na qual todos aqueles que o obedecem partilharão desta mesma alegria, de um modo completo. Desse modo, podemos dizer que a alegria humana em um mundo arruinado será no máximo passageira, momentânea, rasa, incompleta, até que a existência humana seja surpreendida por uma experiência do amor de Deus em Cristo Jesus, o amor para o qual fomos criados, um amor mútuo que resulta numa obediência sem restrição ao Pai do céu. O Filho não oferece aos seus discípulos sua alegria como um pacote separado; ele compartilha sua alegria à medida que os seus compartilham sua obediência, a obediência que enfrenta voluntariamente as mortes cotidianas dos egoísmos e interesses pessoais (cf. 12,24-26), para viver o amor (ágape), estabelecendo a aliança de misericórdia e lealdade (hesed).

Meus irmãos, nós fomos escolhidos para a alegria e para o amor. Temos uma missão neste mundo: viver de tal maneira que demonstre o que significa amar o próximo, amarmo-nos uns aos outros. Veja que o momento histórico atual é inevitavelmente marcado pelo sofrimento, pela insatisfação, pelo sentimento de precariedade e de incerteza, mas nós que somos cristãos sabemos que a vida nesta terra é apenas um momento transitório, uma etapa de aproximação para a vida verdadeira, na qual todas as lágrimas serão enxugadas e todos os desejos de felicidade serão plenamente realizados (cf. Ap 21,4). É certo que somos pecadores, mas somos pecadores redimidos e nisso consiste a nossa alegria.

Não esqueçamos deste nosso compromisso: Permanecer no amor de Cristo Jesus!

Paz e Misericórdia!

 

PROPOSTA PARA A VIVÊNCIA DA PALAVRA DO MÊS:

– Vivência Pessoal: Sou amado por Jesus como Ele é amado pelo Pai! Como tem sido meu amor pelos irmãos, os tenho amado com o amor divino, o mesmo amor com que Jesus me ama, ou simplesmente com um amor humano, um amor que não é perene, que não permanece nas horas difíceis, um amor que não me faz acolher o outro como ele é, com suas fraquezas? Procure fazer um exame de consciência ao longo desse mês observando qual sentimento tem estado mais presente em seu coração: a alegria ou a tristeza. Se a alegria, procure perceber se ela está ligada à vivência desse amor que Jesus nos ordena a viver no Evangelho. Se a tristeza, verifique se você tem observado a vivência desse amor!

– Vivência comunitária: Partilhar da vivência pessoal da Palavra do mês.

 

 

 

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