Palavra do mês de Setembro: José, Maria e Jesus: a Família de Nazaré
Nesta Palavra, encontramos um mistério imenso, que resume, em um único versículo, trinta anos da vida de Cristo! “Jesus desceu com os pais em Nazaré”. Neste descer, está contido o segredo da família de Nazaré; nesta submissão se revela o caminho da vida divina, à qual somos chamados.
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De fato, esta “submissão” não foi apenas do Cristo. O santo Evangelho nos revela que José, Maria e Jesus, viviam uma contínua e recíproca submissão. À imagem da Santíssima Trindade, eles viviam “um para o outro”, em relação ao outro, “considerando o outro superior a si mesmo!” (Fl 2,3). Em consequência, só podemos compreender a vida de São José no seu “dar-se”, “perder-se”, viver em função de Maria e do Cristo.
A grandeza de São José, da Virgem Maria e de cada um de nós, a identidade deles e a nossa, está na capacidade de não viver mais para nós mesmos, mas que, com Cristo, como Cristo, possamos dar a vida para os irmãos. José viveu expropriado de si! Sua grandeza está em sua pequenez, sua autoridade em sua submissão ao projeto do Pai, a sua realização em consumir sua vida no amor pela esposa e pelo filho que lhes foram confiados: “em ter feito da sua vida um serviço, um sacrifício ao mistério da encarnação e à conjunta missão redentora, em ter usado da autoridade legal que detinha sobre a Sagrada Família para lhe fazer dom total de si mesmo, da sua vida, do seu trabalho… uma oblação sobre-humana de si mesmo, do seu coração e de todas as capacidades no amor colocado ao serviço do Messias nascido em sua casa.”¹
“Jesus desceu com os pais em Nazaré e era-lhes submisso” (Lc 2,51).
À luz da vida de São José, é maravilhoso entender que, neste tempo, em que a cultura promove e gera um individualismo exasperado, precisamos revelar ao mundo que a verdadeira realização humana está no relacionamento! Só quando o meu “eu” se perde no “nós” eu nasço realmente como pessoa, encontro minha plena realização e minha “verdadeira personalidade”. Viver para os outros é a lei de toda a natureza e o segredo da verdadeira alegria, está no dom de si mesmo, “porque há maior alegria em dar do que em receber” (At 20,35).
Nesta palavra podemos contemplar a família de Nazaré como o reflexo mais límpido da vida trinitária na terra, ao ponto que alguns santos, com muita propriedade, chegaram a chamar essa família como “a Trindade na terra”. São João Paulo II, extremo defensor da família, escreveu na Exortação Apostólica Familiaris Consortio que: “o amor dos cônjuges é uma participação singular no mistério da vida e no amor do próprio Deus” (n. 29) e o “Nós” divino, constitui o modelo do “nós” humano”.
Toda família humana é chamada a revelar este “nós” Trinitário do amor do Pai que “se perde”, se entrega totalmente no Filho, do amor do Filho “que perde” no Pai, do amor do Espírito gerado como fecundidade infinita, nesta recíproca entrega, que “é derramado nos nossos corações”, para podermos participar desta vida Divina, na alegria transbordante da Glória de Deus.
Esta é a Boa Nova que precisamos revelar ao mundo e que se revela de forma perfeita na família de Nazaré. Enquanto “descemos”, pensando e cuidando dos outros, como servos dos irmãos, revelamos a Glória de Deus. Só “descendo” com José, com Maria, com Cristo, alcançamos a altura do céu!
“Jesus desceu com os pais em Nazaré e era-lhes submisso” (Lc 2,51).
Nunca esqueço do dia em que uma mulher, que passava na rua, vendo dois dos nossos missionários que se ajoelharam na calçada, para socorrer um pobre doente e sujo, disse: “agora sei qual é o caminho! Procurei Jesus em várias igrejas, centro espíritas e não encontrei… na hora que vi vocês debruçados sobre este pobre, escutei a voz do Senhor que me dizia: ‘este é o caminho, siga-o!’”
Sim, este é o caminho, o caminho da descida, da submissão, do saber se perder para encontrar Cristo e revelá-lo ao mundo. Hoje, precisamos ter consciência dos “tempos tristíssimos” em que vivemos (como escreveu o Papa Pio IX, no decreto Quemadmodum Deus).
Há uma violenta batalha espiritual contra vida e contra a família… é o “anti-evangelho”, o “anti-gênesis”, do Anticristo que deseja destruir os filhos da Mulher com seu “vômito”, com todas as correntes culturais que querem submergir a Igreja. O ataque contra a família é o ataque contra o próprio Deus Pai, Filho e Espírito Santo que “fez o homem à Sua imagem e semelhança, macho e fêmea os criou” (Gn 1,27). Em Fátima, Nossa Senhora, nos alertou, através da Irmã Lúcia: “a última batalha do demônio será contra a família!” Precisamos, sem dúvidas, lutar contra “aquele, sendo mentiroso e pai da mentira” (Jo 8,44) com a arma da verdade, que liberta e ilumina, a inconsistência do erro, pela espada da Palavra. Mas, ainda precisamos lutar com a força da oração e do sacrifício, precisamos interceder pela conversão dos pecadores e a paz do mundo.
“Jesus desceu com os pais em Nazaré e era-lhes submisso” (Lc 2,51).
Acima de tudo, porém, entendemos que essa batalha espiritual começa em nosso coração, precisamos então testemunhar a alegria do Evangelho, a luz do amor de Cristo que resplandece nas trevas desse mundo e sermos testemunhas da Misericórdia Divina, que desce sempre na miséria humana e contagia com a beleza e o perfume de Cristo. São José, São João Paulo II, Madre Teresa e todos os santos, quiseram agradar a Deus e não o mundo e agradando a Deus contagiaram o mundo, transformaram a história. Hoje intercedem por nós!
O Senhor nos conceda a graça de não vivermos mais para nós mesmos! Ele nos abençoe e nos guarde!
Padre João Henrique, fundador
¹ NOTA: Assim escreve Papa Francisco na Patris Corde 1 citando São Paulo VI, homilia 19/03/1966
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