Os Apóstolos: chamados para anunciar o Reino

Cheios do Espírito: Evangelizar para transformar

Os Apóstolos: chamados para anunciar o Reino

 

“Jesus subiu ao monte e chamou a si os que quis e estes foram para junto dele e constituiu os doze…” (Mc 3,13-14)

Lendo esse belíssimo e sintético trecho da instituição dos discípulos, no Evangelho segundo São Marcos (Mc 3,13-14), logo percebemos que cada palavra está cheia de significado, e se tornam expressões que falam à nossa vida. Vale a pena “ruminar” essa palavra para nos alimentarmos e renovarmos o dom que recebemos, ao sermos chamados a uma vida com Jesus e para o Seu serviço. De fato, mesmo que as realidades dos nossos chamados sejam diferentes, o ministério apostólico é único! Nota-se que neste trecho há elementos comuns e preciosos para melhor compreender o específico do nosso chamado.

“Jesus subiu ao monte”. O evangelista Lucas nos ajuda a entender profundamente o sentido desta expressão, que nos textos de Marcos é bem mais sintética. Ele escreve: “Foi à montanha para rezar e passou a noite inteira em oração a Deus” (Lc 6,12). Os Evangelhos nos ensinam que todo passo determinante da vida do Messias foi marcado por intensa oração. Na nossa vida, a vocação não é um “enfeite”: é a essência do nosso viver! A fidelidade à vocação exige, então, antes de tudo, esta aprendizagem na escola do Mestre: “Senhor, ensina-nos a orar!” (Lc 11,1).

No texto narrado por Marcos, Jesus chamou para Si aqueles que Ele quis (Mc 3,13-19). Nestas palavras poderíamos entender o que de verdade significa orar: “estar junto dEle”. Responder ao chamado é, primeiramente, estabelecer com Jesus um relacionamento de intimidade, de amizade: “Não vos chamo servos, eu vos chamei de amigos” (Jo 15,15). Antes de ser chamado à missão, eu sou chamado ao encontro dEle. Antes de ser enviado como apóstolo e missionário, eu sou chamado a ser “discípulo amado” e “discípulo amigo”. É a “frequentação” que me torna família e que nos faz semelhantes ao Mestre, ao jeito do Mestre, até me tornar uma só coisa com Ele. Por isso, Paulo chega a dizer: “Não sou mais eu que vivo. É Cristo que vive em mim” (Gal 2,20).

Porque Jesus “chamou os que Ele quis”? Ele não chama os mais capacitados: escolhe quem é fraco, aqueles que muitas vezes são considerados inúteis (cf. 1Cor 1,27). Aqui está o mistério da gratuidade de Deus. Assim, o chamado não é um prêmio para quem chega em primeiro lugar, um concurso de beleza (como dizia brincando o Papa São João XXIII) ou até mesmo uma seleção de capacitação profissional. E, menos ainda, é meramente uma iniciativa humana. O chamado de Deus é um mistério de predileção divina: “Não fostes vós que me escolhestes, fui eu quem vos escolhi” (Jo 15,16).

“Jesus subiu ao monte e chamou a si os que quis e estes foram para junto dele e constituiu os doze…” (Mc 3,13-14)

“Constituiu” é uma palavra forte, “substancial”, quer dizer que dá substância, natureza, identidade. Significa que a vocação nos “sustenta”, nos capacita para a missão pela qual somos enviados. Teologicamente, são consideradas “palavras constitutivas”, as palavras da consagração Eucarística, que mudam a própria natureza dos elementos. O pão e o vinho, pela força destas palavras, se tornam Corpo e Sangue de Cristo.

Como poderíamos expressar a beleza desta sentença: “Palavra constitutiva”? No Evangelho de João, Jesus nos deixa Maria como mãe, em Suas últimas palavras no alto da cruz: “Mãe, eis aí o teu filho. Filho, eis aí a tua mãe” (cf. Jo 19,26). Poderia dizer que esta é uma “palavra constitutiva”, que gera um “novo”, que toca a essência da natureza humana em seus relacionamentos: e a partir daquela hora, o discípulo a levou para sua casa(Jo 19, 27). Assim, quero lhes dizer que é o Senhor que nos “constitui” em “nossa vocação e missão” pela força da Palavra criadora que, do nada, chama à existência todas as coisas (cf. Rm 4,17).

Por isso, será sempre pela força da Sua Palavra, que poderemos “lançar as redes” do nosso trabalho apostólico, e nunca na confiança das nossas forças. Tirando os olhos dEle, afundaremos sempre na inconsistência da nossa natureza humana (Mt 14,22-36).

“Jesus subiu ao monte e chamou a si os que quis e estes foram para junto dele e constituiu os doze…” (Mc 3,13-14)

 “Para que ficassem com Ele, a fim de enviá-los a pregar e para que tivessem autoridade para expulsar demônios” (Mc 3, 14-15). Esta é uma síntese do nosso próprio chamado (enviados=apóstolos) que podemos ver em três partes:

  1. Intimidade com o Senhor: Este é o primeiro presente que Ele nos dá: intimidade e amizade com Ele. Unido a Ele, terei em mim, Seus mesmos sentimentos no coração, Seus pensamentos na mente, Suas palavras nos lábios, Seu zelo pela salvação dos pecadores nos meus pés, Sua autoridade para expulsar os espíritos malignos no Espírito, Sua unção nas mãos para curar os doentes.
  2. O envio para pregar: A Palavra é eficaz e tem como consequência a cura, a libertação dos povos.
  3. Os sinais acompanharão os enviados a anunciar Jesus: “o Reino está no meio de nós”. “Eles partiram e pregaram por toda parte. O Senhor agia com eles e confirmava a Palavra por meio dos sinais que a acompanhavam” (Mc16, 20).

Uma última coisa importantíssima: “ao enviá-los, Jesus os manda dois a dois”: “Então chamou os doze e começou a enviá-los dois a dois” (Mc 6, 7). Já na escolha dos doze, descrita por Mateus (cf. Mt 10,1-4) e Lucas (cf. Lc 9,1-6), os Apóstolos são chamados dois a dois, assim como são enviados em missão. Então, eis aqui o grande segredo da fidelidade e crescimento vocacional: ter um “companheiro de caminhada”. Isso representa a maior riqueza humana e espiritual para chegar ao Céu.

  • Riqueza humana: sabemos que “quem encontra um amigo, encontra um tesouro” (Eclo 6,14).
  • Riqueza espiritual: sabemos que onde dois ou três estão unidos no Seu nome, Ele está presente no meio deles (cf. Mt 18, 20ss). E, se Ele está conosco, o céu se faz presente. O que podemos querer de melhor?

“Jesus subiu ao monte e chamou a si os que quis e estes foram para junto dele e constituiu os doze…” (Mc 3,13-14)

 Queridos, todos nós passamos por provações na vida. Todos nós podemos cair e perdermo-nos no deserto deste mundo, mesmo carregando o desejo da Terra Prometida por Deus a todo aquele que crê. Por isso, te aconselho: procure aquele companheiro de caminhada que o Senhor lhe confia e a quem pode confirmar os seus passos. Compreenda que não podemos caminhar sozinhos. Lembra-te sempre: é “melhor serem dois do que um, porque têm melhor paga do seu trabalho. Porque se um cair, o outro levanta o seu companheiro; mas ai do que estiver só; pois, caindo, não haverá outro que o levante” (Ecl 4,9-11).

Te abençoo de coração!

Juntos sempre!

Padre João Henrique

Fundador

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