Non praevalebunt!

 Nestas últimas semanas o mundo parou e fixou seu olhar para a cidade do Vaticano. No dia 21 de abril, depois na notícia da morte do Papa Francisco, todas as atenções se voltaram para a Igreja de Roma. Com a ausência de seu bispo, a sede permaneceria vacante até a escolha do novo sucessor de Pedro. Para nós, como católicos, experimentamos por alguns dias uma espécie de orfandade. Olhávamos para a cátedra de Pedro e estava vazia. Além da dor pela perda do Papa Francisco, permanecia também a incerteza do que viria pela frente. E agora? Quem seria o novo Papa? Começaram então a brotar de todos os lados palpites e mais palpites sobre os possíveis candidatos e qualquer pessoa, cristã ou não, dava sua opinião do que esperava do novo pontífice.

O assunto se tornou tão comentado, que chegou a exceder os limites da ignorância de parte de alguns. O mundo olhava para o conclave como se olha para uma eleição democrática em qualquer país com liberdade de expressão. Surgiram os candidatos de direita e de esquerda, liberais e conservadores. Cheguei até a ver um esquema desenhando a quantidade de bispos deste ou daquele lado, igual como se fazem nas eleições parlamentares, como se o conclave se tratasse de uma bancada de políticos representando mais uma vez esta ou aquela opinião.

Mas claro, é preciso reconhecer que todos os cardeais ali presentes tinham e continuam tendo opiniões diversas sobre este ou aquele tema. Mas o que isso muda? A igreja não foi sempre assim? Pensava Pedro da mesma forma que João? Eram todos os doze iguais? De forma nenhuma. Basta ler os Evangelhos e os Atos dos Apóstolos para reconhecer isso. A Igreja nunca pregou uniformidade de pensamento, mas sim uniformidade de consentimento sobre as verdades da fé.

Durante os anos em que a Igreja caminha neste mundo, quase nunca houve consenso sobre os diversos temas, sejam eles relacionados a Cristo, a Trindade, a Igreja, etc. Sempre houve alguns, e em certos momentos muitos, que discordavam do que a Igreja sempre pregou e acreditou. Ario, Nestório, Valentiniano, Sabélio, Marcião, Pelágio, Lutero, entre muitos outros são exemplos disto. Onde estão eles? Sempre venceu a fé ortodoxa. Dar detalhes de todos esses momentos seria demasiado extenso. Mas o importante é ter a certeza de que não é de hoje que a Igreja é perseguida e contrariada. Não é de hoje que controvérsias surgem no seu interior, na tentativa de fazê-la cair. E o que precisamos aprender dessa história é que ela foi fundada por Cristo, e por tanto, Ele é quem a conduz. A sua existência e permanência não depende da santidade dos seus membros, ainda que seja um fator fundamental no cumprimento da sua missão.

E daqui partimos para a reflexão sobre o momento que estamos vivendo com a eleição de um novo papa. De onde vem essa ideia de que nós devamos nos submeter a autoridade do bispo de Roma? Pois bem, no evangelho de Mateus Jesus entrega a Pedro as chaves do Céu e diz a ele: “Tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela. E eu te darei as chaves do Reino dos céus, e tudo o que ligares na terra será ligado nos céus, e tudo o que desligares na terra será desligado nos céus.”

O gesto de entregar as chaves era comum no tempo dos reis de Israel. Quando o rei precisava se ausentar do seu reino por algum motivo, ele entregava as chaves a alguém para que durante sua ausência pudesse governar. A analogia é clara. Jesus, sabendo que deveria cumprir sua missão de morrer, ressuscitar e subir aos céus, quis continuar seu legado através uma instituição hierárquica chamada Igreja Católica, da qual Pedro recebeu o primado entres os doze. Pedro então, tem a missão de governar no lugar de Cristo. Nosso Senhor está ressuscitado, glorioso no céu, sentado no trono de glória. Ele é o Rei. Mas esse reinado ainda está sendo realizado nesta terra, e a Igreja militante precisa continuar caminhando nesta direção. E quem a governa aqui é Pedro. Ele é o vigário, ou seja, representante de Cristo.

Ora, seria ilógico acreditar que tudo acabaria então com a morte de Pedro. Era preciso ainda continuar o legado, e para isso ele entrega as chaves que recebeu de Cristo a outro. Assim, surge a sucessão apostólica. De Pedro até hoje, essa linha não foi quebrada. Jesus também prometeu a Pedro que as portas do inferno não prevaleceriam contra ela. Daí o título deste artigo – Non praevalebunt! Não prevalecerão! Nós precisamos crer na promessa de Deus! Os inimigos da Igreja não são capazes de destruí-la! E atenção, nem os de fora, nem os dentro. Sempre foi assim e continuará assim, até que Cristo venha definitivamente.Enfim meus queridos, precisamos nos apaixonar cada vez mais pela nossa Igreja, precisamos rezar mais por aqueles que estão a sua frente, precisamos conhecer mais sua história, sua teologia, o sentido da sua liturgia, a beleza dos sacramentos. Tenho certeza de que quanto mais você adentrar neste mistério, mais vai se apaixonar. Vivamos nossa fé, amemos a Cristo, amemos a Sua Mãe Santíssima, amemos nosso Papa, amemos nossos bispos e sacerdotes, amemos nossos irmãos. Eis o legado que Cristo nos deixou: “Amai-vos uns aos outros como eu vos amei”.

Deus te abençoe!

Pe. Luís Fernando

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