Memento Mori, Carpe Diem

Continuando minha reflexão no último texto sobre o quanto estamos nos perdendo no mundo virtual e o quão pouco conseguimos viver no mundo real, nesses dias pensava no valor do tempo. Cada vez é mais difícil encontrar tempo. Em muitas oportunidades nos encontramos querendo detê-lo, mas ele não para de correr, não há como controlá-lo. Simplesmente avança, segundo a segundo. Diante desta corrida contra o tempo, nos acostumamos a dizer: “Nossa, como o tempo passou rápido!”, “Nem percebi a hora passar!” De fato, é assim. Nos lamentamos constantemente pelo tempo que não temos, e afirmamos que se tivéssemos mais tempo faríamos isso ou aquilo. Gostaríamos que o dia tivesse trinta horas em vez de vinte e quatro. Estamos sempre correndo contra o relógio. Mas seria o tempo nosso inimigo? A resposta a essa pergunta depende da forma como nós o vivemos e o aproveitamos.

Nossa grande tentação é a de sempre viver fora do tempo, correndo contra ele ou até mesmo o desperdiçando. Se olharmos na ótica da nossa fé cristã, o tempo é um presente de Deus dado a nós como um caminho para que possamos chegar a um lugar onde ele já não existe: a eternidade. É por isso que o salmista em sua oração diz: “Ensina-nos a contar os nossos dias, para que nosso coração alcance sabedoria” (Sl 90, 12). Devemos fazer também essa oração. Precisamos aprender a contar os nossos dias, pois temos a certeza de que um dia nossa vida nesta terra acabará. Não há como fugir da morte. Ela nos encontrará, cedo ou tarde. Diante disso, o que fazemos? Desperdiçamos nosso tempo com coisas fúteis, que não acrescentam em nada nosso objetivo de chegar ao céu? Ou o empregamos de maneira ordenada para estarmos mais preparados para o dia de nossa morte? A meditação sobre a morte era algo constante na vida dos santos. Por isso também muitos deles são retratados segurando ou olhando para uma caveira, símbolo desta vida que passa. Com a certeza da morte diante dos olhos, fica mais difícil perder o precioso tempo dado por Deus a nós. Com relação a isso, Santo Afonso Maria de Ligório tem uma passagem interessante sobre nossos passatempos que não nos conduzem a vontade de Deus. Ele diz assim:

“Vede aquele jogador que perde dias e noites na tavolagem. Perguntai-lhe o que fez e responderá: “Passar o tempo”. Vede o ocioso que se entretém horas inteiras na rua a ver quem passa, ou a falar em coisas obscenas ou inúteis. Se lhe perguntam o que está fazendo, dirá que não faz mais do que passar o tempo. Pobres cegos, que assim vão perdendo tantos dias, dias que nunca mais voltam!

Ó tempo desprezado! tu serás a coisa que os mundanos mais desejarão no transe da morte… Queremos então dispor de mais um ano, mais um mês, mais um dia; mas não o terão, e ouvirão dizer que já não haverá mais tempo (Ap 10,6). O que não daria então cada um deles para ter mais uma semana, um dia de vida, a fim de poder melhor ajustar as contas da alma!… Ainda que fosse para alcançar só uma hora – disse São Lourenço Justiniano dariam todos os seus bens. Mas não obterão essa hora de trégua… Pronto, dirá o sacerdote que o estiver assistindo, apressa-te a sair deste mundo; já não há mais tempo para ti.”

Impactante, não é? Poderíamos alterar a forma de passar o tempo colocada pelo santo, já que ele viveu em uma época muito diferente da nossa. Hoje passamos nosso tempo nas redes sociais, na frente da televisão, em diversões fúteis e passageiras. Talvez diante disso você deva estar se perguntando: Então todo passatempo é perda de tempo? Não necessariamente. Acredito que o segredo para não cair neste pecado é sempre ver quais frutos este passatempo gera em mim e nos outros. Não há problema em assistir um filme, ver um vídeo engraçado, passar alguns minutos nas redes sociais, mas quando isso me faz deixar de cumprir minhas obrigações, começo a desvirtuar o valor de um bom passatempo. Conheço pessoas que dizem não ter tempo para rezar, ou para descansar, mas são capazes de passar horas nas redes sociais. Será mesmo que não temos tempo? Ou não sabemos usar bem o tempo que temos?

Para não deixar este texto muito extenso, termino com uma última reflexão. Talvez você alguma vez tenha escutado a expressão Carpe Diem. Ela tem origem em uma obra do famoso poeta Horácio, nascido um século antes de Cristo. A expressão significa aproveite o dia e tem como finalidade nos lembrar que só temos certeza do tempo presente e é preciso aproveitá-lo. Séculos depois surgiu nos mosteiros da Idade Média o costume de que os monges se cumprimentassem usando a expressão Memento Mori, ou seja, lembra-te de que és mortal, e a outra pessoa então respondia Carpe Diem. Poderíamos instaurar este costume entre nós. Lembrar nossa condição mortal e finita nos ajudaria a viver mais intensamente o momento presente como se fosse o último. Imagine que você fizesse todas as coisas do seu dia pensando ser aquela a última vez. Imagine que fosse avisado de que amanhã morreria, o que você faria? Bem, não espere ser avisado, porque isso não acontecerá. Viva intensamente o hoje, e aproveite bem cada momento. E se estiver perdendo o seu tempo em coisas que não te conduzem ao céu, reveja sua vida e tente mudar. Disto se trata nossa vida nesta terra. Cada dia lutar para estar mais perto da nossa meta: a eternidade.

 

Deus te abençoe.

Pe. Luís Fernando

 

0 Comments

Leave a Comment

Login

Welcome! Login in to your account

Remember me Lost your password?

Lost Password