Evangelho vivido em casa: O cotidiano da família Ulma

Em tempos nos quais tantas famílias enfrentam desafios para manter a fé viva dentro de casa, a história da Bem-aventurada Família Ulma resplandece como um exemplo luminoso de como é possível viver o Evangelho em família, mesmo em meio a tribulações extremas. A espiritualidade do lar dos Ulma, marcado por oração, trabalho, acolhimento e fidelidade a Cristo, revela o que a Igreja chama de verdadeira Igreja doméstica.

Uma família comum com fé extraordinária

A família Ulma vivia na pequena vila de Markowa, na Polônia, durante a Segunda Guerra Mundial. Eram agricultores simples: Józef Ulma, o pai, era um homem culto, envolvido com a agricultura e a fotografia, e sua esposa Wiktoria, uma mulher de fé, delicadeza e dedicação total à casa e aos filhos. Tiveram sete filhos, o último ainda no ventre de Wiktoria quando todos foram mortos por acolherem judeus perseguidos pelo regime nazista.

Apesar das circunstâncias difíceis, o lar dos Ulma era permeado por uma espiritualidade doméstica intensa. Rezavam juntos, liam a Bíblia — um dos objetos encontrados na casa era exatamente a Sagrada Escritura — e transmitiam aos filhos os valores cristãos por meio do testemunho silencioso, do trabalho e da entrega ao próximo.

A oração que sustentava o lar

O cotidiano da família Ulma era moldado pela oração diária, prática que unia todos em torno da fé. Em um tempo de guerra e medo, a confiança em Deus era cultivada com perseverança. A Bíblia encontrada na casa, marcada com anotações feitas por Józef, revela um lar onde a Palavra de Deus era alimento cotidiano.

Essa vivência constante da oração é um convite para todas as famílias católicas redescobrirem o poder da oração familiar, seja ao redor da mesa, antes de dormir, no Santo Terço ou em momentos de silêncio. A espiritualidade da família começa com gestos simples, mas constantes, que criam uma cultura de fé no coração do lar.

Acolhimento como missão

Um dos traços mais marcantes da família Ulma foi o acolhimento corajoso dos judeus perseguidos. Mesmo cientes do risco de morte, acolheram em sua casa oito judeus que fugiam da perseguição nazista. Para os Ulma, proteger vidas era expressão concreta do Evangelho vivido. Eles enxergavam o rosto de Cristo nos irmãos sofredores, e por isso não hesitaram.

Este gesto heroico mostra como o lar cristão deve ser espaço de misericórdia e hospitalidade, onde cada pessoa é acolhida com amor, especialmente os mais pobres e vulneráveis. É o que o Papa Francisco frequentemente chama de “uma Igreja em saída” que começa dentro das casas.

Educação dos filhos na fé

Józef e Wiktoria educavam seus filhos com profundo senso de responsabilidade cristã. Mesmo com poucos recursos, a formação moral, espiritual e humana era prioridade. As crianças eram envolvidas na rotina da fé, aprendendo com o exemplo dos pais o valor da oração, da bondade, da partilha e do trabalho.

Hoje, a família Ulma é um modelo de como educar na fé dentro do lar: com simplicidade, constância e testemunho. Não é necessário ter muito para transmitir tudo. O essencial é viver com coerência aquilo que se crê.

Vida sacramental e santidade cotidiana

A família participava com frequência da Santa Missa e vivia em comunhão com a paróquia local. A fé não era apenas um valor cultural, mas um compromisso vivo com Cristo, alimentado pelos sacramentos e pela vida em comunidade. Mesmo em tempos de guerra, a vida cristã não era deixada de lado.

A santidade do cotidiano vivida pelos Ulma — no cuidado com os filhos, no trabalho agrícola, no serviço ao próximo e na oração — mostra como é possível transformar as tarefas simples da vida em um verdadeiro caminho de união com Deus.

 

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