Avivamento – Só grito ou mudança interior? Do sentimento à missão

Nos dias de hoje, temos ouvido falar crescentemente a respeito da experiência do avivamento, algo tão desejado e profetizado por muitos grupos cristãos (católicos e evangélicos) e ardentemente esperado por uma infinidade de fiéis discípulos de Jesus que, atentos aos sinais dos tempos, pressentem a necessidade de uma intervenção divina sobre a realidade presente, marcada por um desrespeito, indiferença ou até descrença de Deus cada vez maior.

Assim, em primeiro lugar, é necessário termos clareza do que é o avivamento e de qual é o desejo de Deus para nós, quando, em seu insondável desígnio de amor, permite esta manifestação maravilhosa do céu na terra. Isto também pelo fato de existirem diferentes e, às vezes, falsas concepções de avivamento. Com frequência encontramos convites para participarmos de uma Noite de Avivamento ou algum Encontro de Avivamento, como se pudéssemos controlar e definir quando ele acontecerá.

Outros relacionam o avivamento com uma experiência de oração sentimental, com músicas, instrumentos, danças que despertam nossa sensibilidade e tocam nossas emoções, levando as pessoas a chorar, tremer, rir, pular, etc. Ainda que tais situações possam ser momentos de encontro real com Deus, onde o Espírito Santo derrama sua graça sobre aqueles que se abrem com fé, elas ainda não caracterizam e nem manifestam o sentido verdadeiro de um avivamento.

Embora este termo não apareça explicitamente na Sagrada Escritura, essa experiência é profundamente bíblica. O Antigo Testamento apresenta com frequência o pedido para Deus avivar ou vivificar a Sua obra: “Aviva, Senhor, a vossa obra” (Hab 3,1), ou ainda “Não voltarás para nos vivificar?” (Sl 85,7). No entanto, uma das passagens mais importantes e esclarecedoras que explica o avivamento encontramos em Isaías 64,1-2: “Oh! Se rasgásseis o céu e descesses, os montes estremeceriam diante de ti […] as nações tremeriam diante de tua face, vendo-vos realizar prodígios inesperados”. Isso é o avivamento, quando Deus rasga o céu e desce, realizando feitos prodigiosos, causando espanto e tremor em todos. Numa linguagem mais atual diríamos: é quando o céu invade a terra. A respeito desta passagem, Arthur Wallis, um famoso evangelista inglês, define de forma clássica o avivamento: “Deus revelando-se a si mesmo em santidade assombrosa e poder irresistível” (Livro No dia do Teu poder, 1956).

Então, por que Deus permite um avivamento? Por que Ele permite que Sua santidade, em determinados momentos da história, se manifeste em todo seu assombro e glória?

Podemos concluir, reconhecendo nossa pequenez em abarcar algo tão grandioso, que o maior motivo não é outro senão nos tornar santos! Sim, a santidade é o que Deus mais espera de nós. Por isso, um verdadeiro avivamento traz consigo uma onda fortíssima de conversões, mudanças radicais de vida, restaurações de famílias, gestos profundos de perdão e de reconciliação entre as pessoas, destruindo todas as muralhas das divisões. Isto sem falar das inúmeras e espantosas curas, milagres, libertações e prodígios que Deus permite acontecer para consolidar a fé nos corações, causando uma expansão missionária, evangelizadora, e um crescimento extraordinário da igreja. Porém, a santidade, é o fruto mais desejado por Deus.

Tal conclusão é confirmada pelo exemplo mais grandioso já conhecido de Avivamento desde o início da igreja, o Pentecostes: um ruído como um vendaval estrondoso vindo do céu, línguas como de fogo que descem, e todos ficam repletos do Espírito Santo (cf. At 2,1-4). Esta última menção – repletos do Espírito Santo – exprime justamente o que acabamos de dizer. O Espírito Santo, ou o Espírito de santidade, desce para nos santificar, nos tornando semelhantes a Ele: “sede santos, porque eu sou santo” (1Pe 1,15). Por isso, o simbolismo do fogo é um dos
mais expressivos da ação do Espírito, pois expressa sua energia transformadora. Assim como o fogo, o Espírito Santo transforma tudo aquilo que Ele toca (Catecismo Igreja Católica, 696). E como vimos em At 2, a consequência imediata é a evangelização, a pregação da Palavra acompanhada pela força explosiva dos carismas do Espírito Santo.

Seria um erro acharmos que precisamos convencer Deus a fazer isto, porque ninguém deseja derramar novos avivamentos sobre a terra mais do que Ele. Deus quer, mais do que todos nós, levantar a Sua igreja e fazer com que ela brilhe sua glória e sua grandeza neste mundo de trevas e devassidão. Portanto, se o avivamento depende exclusivamente do querer de Deus, a nós cabe apenas uma coisa: perseverarmos concordes na oração, na espera confiante da ação divina, e intimamente unidos à Maria, a Imaculada do Espírito Santo, quem nos prepara, como apóstolos dos últimos tempos, como seu exército branco, para trazermos este novo Pentecostes à terra.

Pe. Danilo José

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