Aliança de Misericórdia realiza evento “Conexões – Futuro Sustentável” para dialogar sobre ESG com empresas e instituições
Na última quarta-feira, 26, em São Paulo, a Aliança de Misericórdia, em parceria com o projeto Floresta Urbana, Grupo Comolatti e AYA Hub realizou o workshop “Conexões – Futuro Sustentável” com o propósito de conectar empresas, CEOS e instituições para um diálogo de atuação com foco em ESG, reunindo profissionais de diversas áreas, dedicados ao empreendedorismo social e à transformação de vida.
Nosso planeta pede socorro, temos visto os efeitos catastróficos das mudanças climáticas no Brasil e no mundo, como recentemente, nas enchentes que devastaram cidades no Rio Grande do Sul. Os especialistas avaliam que eventos adversos extremos se tornarão uma realidade cada dia mais recorrente e faz-se urgente, ações de início imediato com troca de experiências e atuação de líderes empresariais, governos e sociedade civil organizada.
Logo na abertura, Bia Hauptmann, diretora de relações institucionais da Aliança de Misericórdia citou a importância de pensarmos e agirmos em prol do “cuidado com a casa comum”, de acordo com a Encíclica Laudato Si’ escrita pelo Papa Francisco, ou seja, o universo no qual vivemos. Também agradeceu as conexões possibilitadas para dialogar sobre sustentabilidade e ações sociais que a Aliança de Misericórdia realiza há mais de 20 anos, a partir do encontro com Jordão Resende do AYA Earth Parners e Floresta Urbana e a longeva parceria com Sérgio Comolatti, presidente do Conselho do Grupo Comolatti.
O evento realizou painéis com participação de empresários, executivos, especialistas, além de convidados de diversas áreas de atuação.
Ainda na abertura dos trabalhos, Jordão Resende do AYA Earth Partners, explicou que a iniciativa é o primeiro e maior ecossistema dedicado a acelerar a economia regenerativa e o carbono zero no Brasil. Indicou que os ativos verdes do Brasil podem beneficiar até 40 milhões de pessoas e gerar quase 10 milhões de empregos, por isso, o ecossistema de descarbonização foca em 5 transições: alimentos e uso do solo, finanças sustentáveis, economia circular e materiais, energia limpa e renovável e regeneração de florestas e bioeconomia. Também apresentou o projeto “Floresta Urbana”, do qual é um dos fundadores e que tem como eixo de atuação priorizar pessoas, economia, cidades, meio ambiente. E, para tanto, “extrair o melhor resultado ambiental, social e econômico de nossas ações, inclusive, com metas de 2024-30 de plantar até 100.000 árvores”, além de conectar pessoas, organizações comprometidas com o meio ambiente e ações sociais.
Luana Paganini, diretora executiva do AYA Partners Earth complementou que até 2030, o Brasil pode se tornar a primeira grande economia a alcançar a neutralidade de carbono e, ao mesmo tempo, acelerar o seu crescimento econômico e agregar de 230 a 430 bilhões de investimentos na economia verde. Ela apresentou a iniciativa do “Projeto Cidade Matarazzo”, na região central de São Paulo, próxima a Avenida Paulista, em um complexo com área de 200mil metros de verde que reúne arte, cultura, diversidade, o melhor life style da cidade. O projeto surgiu com o restauro de um complexo centenário com 10 edifícios tombados em um terreno de 30.00 m2 localizado próximo à Avenida Paulista. Neste local funcionou o Hospital Umberto I e a Maternidade Condessa Filomena Matarazzo, erguidos em 1903 e 1943, respectivamente idealizados pelo conde Francisco Matarazzo. Em 1993, o Hospital foi desativado, permaneceu 20 anos abandonado e em 2007 foi adquirido pelo empresário Alexandre Allard. Privilegiando e preservando a memória histórica, o empreendimento contará ainda, com três intervenções arquitetônicas contemporâneas e abriga o Hotel Rosewood São Paulo, e contará com um centro cultural de primeiro mundo, uma fashion megastore com mais de 70 marcas exclusivas no Brasil e 34 pontos de gastronomia. Finalizou deixando uma reflexão sobre “como sair do outro lado e que iniciativas iremos tomar para influenciar neste processo”.
Painel “Desafios e oportunidades na implementação do ESG”.
Na abertura deste painel, Luiz Carlos Cabrera, fundador e CEO da LCabrera Consultoria Empresarial e membro do Conselho Consultivo da Aliança de Misericórdia, através de um vídeo, agradeceu a presença de todos os participantes e apresentou a primeira painelista, Daniela Aiachi, diretora de sustentabilidade da AMCHAM-Brasil há 24 anos, ressaltando que a instituição faz um excelente trabalho em advocacy, governança e sustentabilidade em seu papel de promover o comércio entre Brasil e Estados Unidos desde 1919, reunindo 5.000 empresas de mais de 40 nacionalidades. Idealizadora da Revista ESG Trends, veículo promotor de educação em sustentabilidade de forma pedagógica para as empresas, divulga importantes ações na área social, ambiental e de governança. E chamou também para o painel o sócio-fundador e membro do conselho consultivo da Agrícola Famosa e da Aliança de Misericórdia, Luiz Roberto Barcelos, um empresário cidadão e com forte formação religiosa. Destacou que sua empresa sediada na divisa do Ceará com o Rio Grande do Norte conta com 9.000 colaboradores na época de safra, sendo uma das maiores empresas exportadoras de melão e melancia do mundo. Representa, como presidente, a Rede Nacional da Agricultura Irrigada (RENAI), incentivando o agronegócio como atividade econômica de esperança para o desenvolvimento sustentável do nosso país.
Em seguida, Daniela Aiach, diretora de Sustentabilidade na AMCHAM-Brasil, responsável pelo maior e mais conhecido Prêmio de Sustentabilidade do Brasil, o Prêmio Eco, iniciou o painel “Desafios e oportunidades na implementação do ESG”.
A executiva destacou que “sustentabilidade é uma jornada, sempre terá algo melhor a ser feito” e no Brasil existem muitos cases sólidos e pouco difundidos, mas reconhecidos no Prêmio Eco com resultados práticos que poderão beneficiar muitas pessoas e o planeta. Compartilhou ainda que esse “pensamento verde” ou olhar mais efetivo sobre o meio ambiente e sustentabilidade não é propriamente uma novidade, mas a atenção mundial focada no tema, sim. Reportou que em 1968, o Clube de Roma debatia o futuro do planeta, na perspectiva de tratar do desenvolvimento sustentável, reunindo políticos, físicos, industriais e cientistas. Constituiu o primeiro grupo a discutir sustentabilidade, meio ambiente e limites de desenvolvimento, 44 anos antes da Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20. “Produziram um estudo que indicava que o planeta não vai aguentar esse consumo desenfreado em relação a degradação dos recursos naturais”, analisa Daniela Aiach.
Já Luiz Roberto Barcelos considera a vertente social, o ser humano, dentre as 3 siglas de ESG, a mais importante. Relembrou uma dolorosa experiência de perda precoce de uma filha e como isso ressignificou sua vida e influenciou sua visão para os negócios. O grupo que comanda emprega 9.000 pessoas e atualmente, é o maior exportador de melão do mundo, mas no início de tudo, deparava-se com funcionários que na jornada de trabalho no campo sentiam mal-estar físico. Descobriu que muitos padeciam de subnutrição, fome e com um simples gesto, fez toda a diferença na vida daquelas pessoas, ao ofertar café da manhã no início da jornada. Edificou sua vida e visão empresarial a partir da citação bíblica: “Todo aquele, pois, que escuta estas minhas palavras, e as prática, assemelhá-lo-ei ao homem prudente, que edificou a sua casa sobre a rocha. E desceu a chuva, e correram rios, e assopraram ventos, e combateram aquela casa, e não caiu, porque estava edificada sobre a rocha” (Mateus 7,24-25).
Painel “Promovendo o desenvolvimento sustentável”
Deste painel participaram Ciro Marino, ex-presidente executivo da ABIQUIM e ex-CEO da Tronox, precedido do Padre Evandro Torlai, presidente e Pe. Isaac Madureira, presidente social da Aliança de Misericórdia.
Ciro Marino apontou que a indústria brasileira é uma das mais sustentáveis do mundo com vantagens competitivas, em função de sua extensão territorial e costa marítima, mercado consumidor potencial, além, dentre outras variáveis de uso de gás natural na produção, muito mais vantajoso em relação a gasolina e carvão, geração de 84% de energia renovável (eólica, solar, hidro), assim como nitrogenados verdes num país agrícola. E dentre os 17 “Objetivos de Desenvolvimento Sustentável” preconizados pela Organização das Nações Unidas para definir políticas públicas e programas sociais, em 15, a química sustentável terá participação. E que o Brasil reúne todos os elementos químicos da tabela periódica em sua constituição e o que se deve prever, planejar, regulamentar é a forma de extração e uso.
Em seguida, Padre Evandro Torlai, presidente da Aliança de Misericórdia, reiterou o compromisso da instituição com o ser humano, resgate da dignidade humana, educação, meio ambiente, ações sociais. Fundada pelo Pe. João Henrique e Pe. Antonello e pela Maria Paola realiza o desejo de amparar os mais necessitados. 2025 será o ano do Jubileu da instituição.
O sacerdote salientou que o trabalho com pessoas marginalizadas pela sociedade, principalmente, as que estão em situação de rua é gerador de todo um processo de transformação num ciclo virtuoso de resgate social. Explicou que partir de ações de evangelização na rua, o acolhido tem oportunidade de conhecer o atendimento diário da Casa Restaura-me em São Paulo, com alimentação, banho, atividades multidisciplinares, em seguida passar por uma Casa de Triagem e, sequencialmente, na Casa de Acolhida, restaurar seu caminho e, se tiver o desejo de permanecer na Comunidade, viver num futuro esperado na Cidade Rahamim, em construção no munícipio de Salto/SP.
Pe. Isaac Madureira, da Aliança de Misericórdia apresentou o projeto da Cidade Rahamim, ainda em construção, afirmando que é um “sonho de Deus, um lugar para transformar o homem, ressignificar e transformar as vidas daqueles que mais necessitam”, dentro de um modelo humanístico, de sustentabilidade ecológica, social, educativa, econômica, espiritual e esportiva. “Não bastava pensar numa obra, numa iniciativa, pensamos numa Cidade, recebemos pessoas em tratamento de drogadição e extrema vulnerabilidade social para sua reinserção familiar, na sociedade, mas principalmente, de reencontro com sua essência”, afirmou.
A “Cidade Rahamim” destina-se às famílias, pequenos grupos e pessoas com necessidades especiais (idosos, crianças, portadores de alguma deficiência e/ou transtornos físicos e/ou psicológicos), irmãos que estiveram em situação de rua que, após um período de recuperação e tratamento nas Casas de Acolhida da Aliança de Misericórdia, terão um lar para viver.
O projeto final da “Cidade Rahamim” terá 03 bairros residenciais, 321 moradias, 02 casas de Acolhimento, Refeitório Central, Centro Comercial, Área Industrial, Aldeia Educacional, Unidade Básica de Saúde, Anfiteatro e Centro de Convenções, Complexo Esportivo, estrutura de ecoturismo, agroflorestas, Usina de Energia Renovável e Centro Administrativo. Privilegiará uma estrutura comunitária com centros educacionais e de formação, áreas de esporte e lazer, oficinas culturais e profissionalizantes, núcleos de produção e geração de renda, espaços para meditação, retiro e oração para habitantes permanentes, temporários e visitantes.
A Cidade Rahamim tem algumas unidades de casas ecológicas construídas, além de unidade administrativa, cozinha, cantina, centro de evangelização e, em fase de construção com finalização prevista para 2026, a Casa Útero para acolher missionários, amigos, visitantes que queiram experimentar uma vivência comunitária e espiritual.
As casas ecológicas foram planejadas para reunir sistemas construtivos ecologicamente sustentáveis como biodigestor e cisternas, além de aproveitamento da energia solar e telhado verde. Mescla diferentes técnicas construtivas como tijolos ecológicos, pau a pique e taipa de pilão oferecendo excelente isolamento termoacústico, ambiente agradável, resistência ao fogo e durabilidade.
Além disto, o terreno da Cidade Rahamim confronta com nascentes de água que são protegidas com a recuperação de mata ciliar e beneficiam o abastecimento do município de Salto/SP.
“Precisamos resgatar a nossa essência, quando falamos de ecologia voltamos a essência, a casa ecológica, por exemplo, feita de barro. Regula a temperatura dentro das casas, Deus nos deu uma tecnologia fantástica, o barro. Os homens precisam voltar a sua essência, serem tocados do que Deus criou para nós, precisamos renovar, dentro e fora”, finalizou.
No encerramento do workshop “Conexões Futuro Sustentável”, Pe. Evandro, Pe. Isaac e Pe. Luiz Fábio realizaram uma benção aos presentes em agradecimento.
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