A fofoca não é tão inocente como parece

Até que ponto o que dizemos faz bem ao nosso próximo?  É comentário ou é fofoca? Existe fofoca boa ou ruim? É pecado ou não?

Faz mal fazer fofoca?

No dicionário Aurélio (2014, P. 355) encontra-se a seguinte definição para fofoca: “Mexerico, intriga.”

A formação da palavra fofoca, se deu em diferentes culturas e está ligada a relacionamentos. Aparentemente percebe-se que é um ato corriqueiro do qual estamos cercados.  E por que a Igreja atesta que fofoca é pecado?

O pecado é uma falta contra a razão, a verdade, a consciência reta; é uma falta de amor verdadeiro para com Deus e para com o próximo, por causa de um apego perverso a certos bens. Fere a natureza do homem e ofende a solidariedade humana” (CIC 2000, P.495).

Pe. Paulo Ricardo de Azevedo Junior (escritor e professor de teologia) em um de seus vídeos, afirma que objetivamente, não é apenas um pecadinho, mas é grave, pois estão pressupostos dois pecados:

Maledicência

Revelar pecado e defeito do outro para destruir sua fama. Pode ser que de fato não seja invenção ou calúnia, mas a pessoa tem direito à boa fama. Como disse um grande santo: “Fama é um bem necessário para a vida social” (São Tomás de Aquino).

A maledicência é um atentado contra a caridade e a justiça. Quando amamos, cobrimos com véu de caridade, a não ser que se tenha uma grave razão para revelar o pecado de outrem.

Nem mesmo os defeitos de pessoas públicas, como por exemplo, nossos governantes, devem ser revelados, exceto se atingir o bem comum.

Murmuração

Além da fama, destrói-se a amizade. É sério, porque a amizade é muito mais valiosa que a fama. Seja para falar, para calar, devemos ser movidos pela caridade. Aí se encontra a verdade da moral cristã, voltada para amor e caridade.

Também nesse caso, só se pode revelar o pecado se for para salvar de algo que possa ser feito contra o outro.

Às vezes nossa preocupação são os pecados que lesam fisicamente: não matar, não roubar, em contra partida, muitos de nós definhamos naqueles que costumamos cometer todos os dias.

A fofoca diminuiu o próximo.

Em todo lugar, há pessoas habituadas nessas práticas. Dentro da Igreja mesmo, tem aqueles que dizem: “sou fofoqueiro mesmo”, aqueles que comentam das pessoas que estão sentados à frente, aqueles que falam das pessoas e pedem segredo, aquele para quem nada está bom e só ele faz melhor, aqueles que revelam toda dificuldade que outra pessoa está passando, os especuladores, etc.

Lígia Guerra, psicanalista, ressalta que a palavra na nossa vida tem um peso muito grande. Não temos consciência do quanto é importante aquilo que emitimos e falamos sobre os outros, na realidade, é o que estamos falando de nós mesmos.

Diminuição do próximo

Na medida em que apenas criticamos, fazemos comentários pejorativos em relação a alguém, nos denunciamos enquanto uma pessoa inferior e nos sentimos mais próximos do objeto de fofoca, daquele que, de repente, se tem inveja ou gostaria de ser.

Atitudes como: agressão, difamação, destituição das qualidades, destruição nas relações, colocar em dúvida capacidade, caracteriza fofoca. Fofoqueiro em primeira instância é invejoso, então, é importante resguardar nas relações.

Diante dessa reflexão, começamos a pensar na nossa vida, nas nossas posturas, quanto mal já semeamos… Jesus nos dá um conselho, que com certeza pode nos iluminar:

“Se teu irmão pecar, vai corrigi-lo a sós. Se ele te ouvir, ganhaste o teu irmão. Se não te ouvir, porém, toma contigo mais uma ou duas pessoas, para que toda questão seja decidida pela palavra de duas ou três testemunhas” (Mt 18,15).

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