Rasgai o coração, e não as vestes

“Rasgai o coração, e não as vestes” (Jl 2, 13ª). Esse foi o pedido de Deus anunciado pelo profeta Joel no Antigo Testamento. Diante de um povo preso a exterioridade da lei, era preciso voltar ao mais essencial e que deve ter primazia no caminho com Deus: a conversão do coração. Escutamos esse apelo divino na Quarta-Feira de Cinzas, ponta pé inicial para o caminho quaresmal. A palavra de Deus se atualiza a cada dia, e hoje ela continua repetindo a cada um de nós: “Rasgai o coração, e não as vestes”. Queridos irmãos, como é fácil viver uma fé feita somente de exterioridade, de preceitos cumpridos a risca, mas que não condizem com nossa vida interior. É fácil rasgar as vestes, difícil é rasgar o coração.

Na mesma quarta-feira o evangelho nos chamava a atenção para o mesmo perigo. Jesus critica os fariseus porque praticavam suas obras a fim de serem vistos pelos demais. “Eles já receberam sua recompensa”, disse Jesus. Os fariseus pararam no exterior de suas obras e por isso recebiam a recompensa dos homens, e não de Deus. Por isso, Jesus chama os discípulos a praticarem as suas obras diante de Deus, pois Ele “vê o que está no segredo”. Ao dizer isso, Jesus quer nos alertar de que Deus conhece a intenção do nosso coração, e sabe o que nos motiva a fazer nossas práticas exteriores.

É tempo de rasgar o coração diante de Deus. E rasgar o coração significa estar na presença de Deus sem máscaras, sem nada para oferecer além de nossa miséria e incapacidade de amá-lo com nossas próprias forças. Rasgar o coração significa permitir que Deus realize sua obra em nós, significa deixar ele entrar nos lugares mais profundos de nossa alma, curar nossas feridas, até mesmo nossa concepção de quem somos e de quem Ele é.

Podemos facilmente cair no mesmo pecado dos fariseus e diante de Deus querer apresentar nosso checklist com todas as nossas obras e nossos preceitos cumpridos. Mas até onde isso de fato agrada a Deus?

“Senhor… não te comprazes  com sacrifícios rituais; mesmo um holocausto, se eu o ofertasse, não te agradaria. Sacrifício para Deus é um espírito contrito; um coração contrito e humilhado tu não desprezas.” (Sl 50, 17-18).

Eis a resposta. Deus se agrada com nossos sacrifícios quando eles partem de um coração contrito e humilhado, quando Ele vê em nós o desejo sincero de conversão. Somente com esse desejo interior podemos oferecer a Deus nossos sacrifícios, com a certeza de que Ele os receberá e e se alegrará conosco.

Com nosso coração rasgado diante de Deus, poderemos rasgar nossas vestes. A prática interior e exterior devem andar juntas. Uma depende da outra. Que essa quaresma nos ajude a viver com profundidade nossa caminho de conversão. Sim, esse é o tempo favorável. E lembre-se sempre: Deus está mais preocupado com seu coração do que com as suas obras. Trabalhe no seu interior, mas não se esqueça de que nossa fé deve ser mostrada em obras. Quanto mais permitir que Deus trabalhe em você, mas Ele te usará para ser instrumento de salvação na vida dos seus irmãos. A obra começa dento e termina fora.

Deus te abençoe,

Pe. Luís Fernando Cardoso Viana

 

 

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