Quarta-feira de Cinzas: “Lembra-te que és pó e ao pó voltarás”

A Quarta-feira de Cinzas marca o início da Quaresma, um tempo de conversão, penitência e preparação para a Páscoa. Durante a Missa deste dia, recebemos as cinzas sobre a cabeça, acompanhadas da frase: “Lembra-te que és pó e ao pó voltarás” (Gn 3,19) ou “Convertei-vos e crede no Evangelho” (Mc 1,15). Mas qual é o significado profundo desse gesto e como ele nos ajuda a viver a Quaresma?

O simbolismo das cinzas na Quarta-feira de Cinzas

As cinzas utilizadas na celebração são obtidas da queima dos ramos bentos do Domingo de Ramos do ano anterior. Elas representam:

  • A fragilidade humana: Recordam que nossa vida na terra é passageira e que devemos buscar as coisas eternas.
  • O chamado à conversão: Assim como Nínive se cobriu de cinzas em sinal de arrependimento (cf. Jn 3,6), nós também nos revestimos delas para renovar nossa caminhada espiritual.
  • O reconhecimento de nossos pecados: São um sinal externo de nossa decisão de nos aproximarmos de Deus.

Santo Agostinho nos lembra: “O Senhor conhece aqueles que são seus; conhece os que perseveram na fé, na esperança e na caridade. Mas nós, que carregamos a fragilidade da carne, devemos sempre usar o remédio da penitência.”

Penitência e Jejum: um chamado para a quaresma, mas qual a diferença?

Durante a Quaresma, a Igreja nos convida a três práticas essenciais: oração, jejum e esmola. O jejum e a penitência são expressões de nosso arrependimento, mas possuem significados distintos:

  • Penitência: É um esforço para nos aproximarmos de Deus, renunciando a algo que gostamos ou praticando obras de caridade. Pode ser feita de diversas formas, como reduzir o tempo nas redes sociais, evitar reclamações, ajudar os necessitados ou rezar mais.
  • Jejum: Consiste em privar-se de alimentos em determinados dias, como forma de disciplina espiritual e purificação da alma.

São João Crisóstomo dizia: “O jejum é a asa da oração, porque onde há jejum verdadeiro, há oração fervorosa.”

Tipos de Jejum na tradição da Igreja

A Igreja nos ensina diferentes formas de jejum, que podem ser praticadas conforme a condição de cada um:

  1. Jejum Eclesiástico: Prescrito pela Igreja, é obrigatório na Quarta-feira de Cinzas e na Sexta-feira Santa para os fiéis de 18 a 59 anos. Consiste em fazer apenas uma refeição completa ao dia, podendo comer algo leve de manhã e à noite.
  2. Abstinência de carne: Obrigatória na Quarta-feira de Cinzas e em todas as sextas-feiras para fiéis a partir dos 14 anos. Em alguns países, como no Brasil, pode-se substituir a carne por outro sacrifício ou obra de caridade.
  3. Jejum pão e água: Esse jejum é praticado em geral por monges, trata-se de se abster de qualquer alimento exceto pão e água durante o dia do jejum.
  4. Penitência quaresmal: Além do prescrito, cada fiel pode escolher formas adicionais de penitência, como evitar doces, refrigerantes, redes sociais ou outras práticas que ajudem na conversão.

O Papa Francisco nos exorta: “O jejum nos desperta, nos torna mais atentos a Deus e ao próximo, reacende a vontade de obedecer a Deus, que é o único que sacia a nossa fome.”

Vivendo a Quaresma com propósito

A Quarta-feira de Cinzas é um convite para entrarmos na Quaresma com o coração aberto. É tempo de abandonar o pecado, fortalecer a vida de oração e praticar gestos concretos de caridade. Como disse São João Paulo II: “O jejum corporal, longe de empobrecer, enriquece o espírito e o fortalece para a luta contra o mal.”

Que neste tempo de preparação para a Páscoa possamos seguir o chamado de Cristo à conversão e ao amor, renovando nossa fé e nossa caminhada com Deus.

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