Os sinais claros de Deus – padre João Fernando fala de sua vocação

Padre João Fernando no dia de sua ordenação, diante de seu pai.

A vontade Deus como um “quebra-cabeça”

Entrevistador: O que foi decisivo na tomada de decisão para o sacerdócio?

Padre João Fernando: Houve vários fatores que foram decisivos, mas acho que sobretudo, foi ter clareza de que essa era a vontade de Deus para a minha vida. Eu não teria coragem de me chamar a mim mesmo, sei que isso não daria certo.

Ao longo do discernimento, tanto eu desejei muito ouvir a voz de Deus, e para isso a vida de oração, adoração, o silêncio foi extremamente importante. Mas, eu percebi que Deus também foi generoso nos sinais para poder confirmar a minha vocação.

Claro que, na oração a gente precisa ter esse olhar contemplativo, pois nem sempre são sinais extravagantes, grandes; às vezes são coisas pequenas como peças de quebra-cabeça que vão se juntando, uma ao lado da outra.

A âncora da memória

Eu compreendendo, então, a partir do que eu sentia, dos meus desejos de poder amar a Deus sobre todas as coisas, de poder entregar a vida pelos irmãos e ao mesmo tempo pelos sinais exteriores, que realmente essa era a vontade de Deus para a minha vida.

Tanto é que eu tinha até dúvida do porquê Deus era tão explícito ao mesmo tempo que outras pessoas tinham tantas dúvidas para discernir a vocação.

Certa vez, meu diretor espiritual me disse que era porque, talvez, viriam momentos em que a tempestade seria tão grande que eu precisaria lançar a âncora da memória para estabilizar o meu barco, para que ele não seja virado pelas ondas.

E realmente isso aconteceu: em diversos momentos de decepções, de deserto, somos tentados a querer reconsiderar, mas o discernimento foi tão bem feito que eu não posso negar que realmente Deus me chamou a isso.

Posso até falar “olha, Deus me chamou e eu não quero mais responder”, mas não posso dizer em nenhum momento que eu não ouvi, nem vi e não experimentei o que eu ouvi, vi e experimentei porque, realmente Deus foi muito explícito nesta coisa do meu chamado.

Desafios para o seu sacerdócio

Acho que são dois, os maiores que eu acabo experimentando:

O primeiro é porque hoje para você ser padre, você não poder ser “só” padre; você tem que ser polivalente. A gente tem que ser gestor, administrador, psicólogo, psiquiatra, coaching e padre também. Enfim, a gente precisa conciliar uma série de atividades com o ministério sacerdotal, assim como o pai de família (acho que é uma realidade presente em todas as vocações).

Para mim, esse é sim um desafio e acho também que a demanda, pois “a messe é grande, mas os operários são poucos”.

Às vezes faltam braços para atender todo mundo que nos procura, para dar a assistência que realmente as pessoas precisam; tem muita gente sofrida querendo dialogar, querendo confessar e como a demanda é grande e o padre é um só, às vezes eu fico sofrido por causa disso: não poder dar às pessoas o acompanhamento, o cuidado e a atenção que elas mereciam receber. Então, eu acho que hoje talvez para mim esses sejam os maiores desafios.

A necessidade dessa polivalência e ao mesmo tempo muito trabalho, muitas ovelhas e poucos braços e um dia 24h é muito pouco para cuidar de todos.

Que realmente possamos rezar mesmo pelas vocações, porque as ovelhas estão aí necessitando de cuidados.

Ajudas necessárias na vida espiritual

Entrevistador: Quais leituras te ajudaram no discernimento

Biografia dos santos são sempre muito inspiradoras. Eu gostei e gosto de poder ler sobre isso. Esses testemunhos me iluminaram muito e me inspiraram a desejar a santidade antes mesmo de querer se padre.

O ser padre foi só uma especificação do caminho que me leva à santidade, mas antes de querer ser padre, eu queria ser santo independente do jeito que fosse. Isso é importantíssimo.

A vida dos santos no geral e biografias: São Cura d’Ars, São Pio de Pietrelcina, São João Bosco, São José de Copertino, São Damião de Molokai, enfim.

Há tantos outros que me inspiraram muito. Agora, tem um livro muito bom que fala sobre o sacerdócio escrito pelo Arcebispo Fulton Sheen (se não me engano está no processo de beatificação): “O Sacerdote não se pertence”; é maravilhoso!

Fala um pouco desta dimensão do padre não apenas como sacerdote, mas também como vítima, pois ele não é um sacerdote à imagem daqueles da antiga Aliança; nós somos sacerdotes à imagem do Cristo que é Sacerdote, Altar e Cordeiro, ou seja, Cristo imolou-se a si mesmo ao Pai.

Da mesma maneira, o sacerdote não oferece coisas a Deus, mas antes de mais nada, ele precisa se ofertar a Deus; ele precisa não ser só um bom padre, mas uma boa vítima. E isso infelizmente a gente não aprende nos seminários e é importantíssimo essa dimensão do sacrifício da renúncia.

É um livro maravilhoso que realmente eu indico para aqueles que querem se aprofundar um pouco mais a respeito o sacerdócio.

Padre João Fernando é missionário da comunidade de vida e atualmente está na missão de Barbalha/Ceará. 

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