O Magnificat: A oração da visitação que transforma nossos corações
No encontro entre Maria e Isabel, narrado no Evangelho de Lucas (Lc 1,39-56), encontramos um dos momentos mais profundos da espiritualidade cristã: a oração do Magnificat. Proferida por Nossa Senhora logo após ser saudada por sua prima, esta oração se tornou um cântico universal de louvor, humildade e exaltação da misericórdia de Deus. O Magnificat não é apenas um texto poético: é uma profecia viva e uma expressão perfeita da espiritualidade mariana — humilde, serva e cheia do Espírito Santo.
O contexto da Visitação: encontro, serviço e alegria
Após receber o anúncio do anjo Gabriel, Maria parte “apressadamente” para a região montanhosa da Judeia. Ela carrega em seu ventre o Salvador e, movida pelo Espírito, vai ao encontro de Isabel, sua parenta já idosa e também grávida. Ao se encontrarem, João Batista estremece no ventre de Isabel e esta, cheia do Espírito Santo, exclama: “Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre!” (Lc 1,42).
É nesse contexto de encontro e reconhecimento que Maria responde com o Magnificat, um hino que se tornou a oração diária da Igreja no Ofício das Vésperas, cantado por santos, religiosas, leigos e sacerdotes ao longo dos séculos.
O Magnificat: espiritualidade mariana e doutrina católica
“A minha alma engrandece o Senhor, e o meu espírito exulta em Deus, meu Salvador” (Lc 1,46-47)
Maria inicia seu cântico exaltando a Deus, reconhecendo sua pequenez e dando glória Àquele que opera grandes maravilhas. Essa atitude de Maria está profundamente enraizada na espiritualidade católica: o louvor como expressão de humildade e reconhecimento da soberania de Deus. Como ensina o Catecismo da Igreja Católica, “a oração de Maria está impregnada da memória das maravilhas de Deus e da esperança da salvação prometida aos pobres” (CIC, §2675).
A oração do Magnificat também é um hino de libertação. Maria exalta a justiça de Deus, que derruba os poderosos de seus tronos e eleva os humildes (cf. Lc 1,52). Ela não é uma espectadora passiva da história, mas a primeira discípula e missionária, que vive em si mesma as promessas messiânicas.
Magnificat: louvor que transforma corações
O Magnificat é um espelho da alma de Maria e, ao mesmo tempo, um convite à conversão. Sua oração convida cada cristão a também reconhecer os feitos do Senhor em sua vida, a manter viva a esperança e a deixar-se conduzir pela lógica do Reino, onde os pequenos são exaltados e os pobres saciados.
No documento Marialis Cultus, São Paulo VI afirma que a oração mariana deve conduzir os fiéis “a imitar as virtudes da Virgem” (MC, n. 56). Nesse sentido, o Magnificat não é apenas recitado, mas vivido: é um caminho de formação espiritual que conduz à alegria, ao serviço e à missão.
Uma oração para o nosso tempo
Em um mundo marcado pelo individualismo, medo e falta de esperança, o Magnificat é um grito profético que reacende a fé no Deus que age na história. Como ensina o Papa Francisco em Evangelii Gaudium, “Maria é a mulher orante e trabalhadora em Nazaré, e também é Nossa Senhora da pressa, aquela que sai em missão com prontidão” (EG, 288). A sua oração, portanto, continua a inspirar os corações que desejam viver o Evangelho com generosidade e alegria.
Rezar o Magnificat é unir-se à voz de Maria e à oração da Igreja. É deixar-se tocar pela misericórdia de Deus, permitindo que Ele realize também em nós maravilhas. Que essa oração transforme o seu coração e o envie, como Maria, a servir com pressa, com amor e com alegria.
Reze o Magnificat com o coração
A minha alma glorifica ao Senhor
e o meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador.
Porque pôs os olhos na humildade da sua serva:
de hoje em diante me chamarão bem-aventurada todas as gerações.
O Todo-Poderoso fez em mim maravilhas:
Santo é o seu nome.
A sua misericórdia se estende de geração em geração
sobre aqueles que O temem.
Manifestou o poder do seu braço
e dispersou os soberbos.
Derrubou os poderosos de seus tronos
e exaltou os humildes.
Aos famintos encheu de bens
e aos ricos despediu de mãos vazias.
Acolheu Israel seu servo,
lembrado da sua misericórdia,
como tinha prometido a nossos pais,
a Abraão e à sua descendência
para sempre.
Glória ao Pai e ao Filho
e ao Espírito Santo.
Como era no princípio, agora e sempre.
Ámen.
0 Comments