O DISCIPULADO: UM CAMINHO DE BONS FRUTOS
“Se permanecerdes em mim, e minhas palavras permanecerem em vós, pedi o que quiserdes, e vos será feito. Nisso meu Pai é glorificado: que deis muito fruto e vos torneis meus discípulos” (Jo 15,7-8).
No mês anterior, ao meditarmos as consequências do “permanecer ou não permanecer em Jesus”, compreendemos que o autêntico discípulo de Jesus se caracteriza, pois, por aceitar Sua palavra não só de maneira formal, mas efetivamente, ajustando a própria vida e comportamentos a ela, num compromisso de seguimento e entrega total no amor. A atitude de “permanecer em Jesus” é a condição fundamental para ser um verdadeiro discípulo do Cristo e produzir muitos frutos (15,5). O “permanecer” é uma adesão à pessoa de Jesus, uma aceitação, um acolhimento, uma escuta dócil e um seguimento radical, pois o discípulo é um dom do Pai para Jesus (6,39), e para segui-Lo é preciso acreditar em suas palavras, decidir-se livremente, aderir voluntariamente, sem esquecer que “ninguém pode ir a Jesus se o Pai não o atrair” (6,44). O discípulo é aquele que ouve, vê, acredita, permanece com Jesus e segue-O, dando assim uma resposta à iniciativa divina, testemunhando o que viu e ouviu (cf. 1Jo 1,1).
Se permanecermos em comunhão com Jesus e “suas palavras permanecerem em nós”, receberemos tudo o que em seu nome convém pedir. Observa-se que o autor sagrado mais uma vez utiliza de modo surpreendente o termo “permanecer”, equivalente ao verbo “morar”, para expressar a presença das palavras de Jesus em nossa vida (15,4). Habitar em Jesus é escutar as Suas palavras, para que elas habitem em nós e sejam as palavras que governam o meu pensar e o meu agir. Se nos textos do Evangelho as palavras de Jesus são equivalentes à Sua própria pessoa, pode-se dizer que Jesus nos pede de ter toda a Sua vida dentro de nós, ou seja, a sua Palavra. Se queremos saber se Cristo está em nós, cabe verificar se Suas palavras desempenham um papel efetivo e afetivo em nossa vida. Para aqueles que não creem é dito que a palavra de Jesus “não cabe neles” (cf. 8,37), que eles não possuem “a palavra de Deus permanecendo neles” (5,38).
Na tradição antiga, os textos do Antigo Testamento em Dt 11,18 costumava-se mandar atar a Palavra de Deus nas mãos, sobre a testa, entre os olhos. Era uma maneira de ter a Palavra de Deus presente. No entanto, para nós, a Palavra deve permanecer, morar, de modo muito mais intenso ainda: viver dentro de nós. Então receberemos tudo o que for preciso para viver conforme a Palavra: Jesus, pois o Pai/Deus espera que produzamos muitos frutos, porque somente deste modo mostramos que somos verdadeiros discípulos de Jesus. Trata-se dos frutos do amor fraterno (cf. 15,16-17), em virtude do qual somos reconhecidos como discípulos de Jesus (cf. 13,15.35). Por isso, se o discípulo estiver unido a Cristo se realizará, com garantia, o que ele pedir. Em outras palavras, pode-se dizer que quando na comunidade se estabelece uma união íntima de amor com Jesus e a entrega à sua missão, pode-se pedir o que quiser: a sintonia com Ele, criada pelo compromisso em favor do homem, estabelece a colaboração ativa de Jesus com os seus. É a união dos discípulos com Jesus que atrai a força de Deus em favor do homem (5,21.26; 6,11; 11,41), para que eles possam continuar vivendo a missão a eles confiada.
“Nisso meu Pai é glorificado: que deis muito fruto e vos torneis meus discípulos” (Jo 15,8)
As expressões “produzir frutos” e “ser discípulo” são apresentados por Jesus como caminhos que não se apartam, como duas semelhantes ações. Mostra-se o ser discípulo pelos muitos frutos, mas os frutos só são possíveis naquele que é discípulo, naquele que permanece em Jesus. Por isso, nota-se que o convite de Jesus se torna ainda mais claro: dos ramos com a videira se espera o produzir frutos, das pessoas com Jesus o tornar-se discípulo.
O Pai é o viticultor que poda os ramos e os purifica para que deem fruto. Quando e à medida que os discípulos produzirem esse fruto, eles glorificarão o Pai. Veja que a glorificação do Pai não está ligada ao atendimento do pedido dos discípulos em nome de Jesus como lemos no texto 14,13, mas ao frutificar dos discípulos (o amor fraterno). O versículo 8 é marcado pela importância da união dos discípulos com Jesus, pois a glória, que é o amor do Pai, manifesta-se na atividade dos discípulos, que continuam trabalhando em favor do homem (5,18). Desse modo, a comunidade sobreviverá se produzir muitos frutos (15,5), e nesses frutos Deus é glorificado. Como o Pai é glorificado na obra do Filho (13,31), o Filho também será glorificado pelo fruto dos discípulos.
Como podemos manifestar a glória de Deus em nossa vida de comunidade? A glória de Deus é manifestada ao mundo através do serviço, da acolhida, do testemunho de Jesus, dos frutos e da fidelidade que ressalta o testemunho que vai até à morte (21,19), imitando o Mestre que deu a vida em favor de todos. Esta é a imagem de uma verdadeira comunidade: a comunhão/unidade dos que creem, aqueles que pertencem ao círculo dos “amigos” de Jesus, os filhos e filhas de Deus. Esta unidade vivida pelos que creem não é uma realização moral ou organizacional da comunidade, mas exclusivamente um dom divino. Ela não brota do consenso dos seus membros, mas é algo que vem da unidade do Pai e do Filho. Sendo assim, podemos pensar que é a unidade dos discípulos que faz com que o Pai continue sendo glorificado (15,8).
“Se permanecerdes em mim, e minhas palavras permanecerem em vós, pedi o que quiserdes, e vos será feito” (Jo 15,7)
É vivendo uma imersão cotidiana na Escola da Palavra, que compreendemos o “instrumento” de que se serve o Senhor para nos podar: a sua própria Palavra, na qual devemos crer mediante a fé e com a qual devemos manter contato por meio da oração assídua. Assim sendo, se seguirmos esse itinerário, unindo a fé à meditação pausada da Palavra de Deus, nele buscando o alimento para a nossa vida interior, o Pai fará crescer em nossas almas verdadeiros frutos de amor e de entrega aos irmãos, pois do mesmo modo como os ramos seguem o destino da videira a que estão unidos, assim também nós, membros de um só Corpo, devemos associar-nos ao amor oblativo de Cristo aos homens.
Não nos esqueçamos que do nosso compromisso: Permanecer em Jesus e amar os irmãos como Cristo nos amou.
Paz e Misericórdia!
PROPOSTA PARA A VIVÊNCIA DA PALAVRA DO MÊS:
– Vivência Pessoal: Como tenho vivido minha vida de oração? Tenho glorificado a Deus amando os irmãos? O que tenho guardado em mim: a Palavra de Deus ou a desesperança? Sou um discípulo de Jesus ou de outros líderes de nossos tempos? Preciso prosseguir no caminho ou voltar para a vida de Cristo? Preciso fazer um gesto de amor para alguém?
– Vivência comunitária: Gestos concretos de caridade fraterna. Partilha em pequenos grupos da Palavra com oração carismática uns pelos outros.
Você optou por reduzir o versículo aqui nas repetições?
Propusemos isso no mês passado acho, em vista do Pentecostes. No entanto acho que vale a pena propor, sendo que é importante estimular o exercício dos carismas. Ok?
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