Imprimirei a minha Lei no seu coração

Foto: Aaron Burden @aaronburden-unplash

“Dias virão, diz o Senhor, em que firmarei com a casa de Israel e com a casa de Judá uma nova aliança. Depois daqueles dias, diz o Senhor, hei de imprimir a minha lei no seu coração e gravá-la no íntimo da sua alma”(Jr 31,33).

Ensinamentos de curam

Irmãos caríssimos: Quando Nosso Senhor Jesus Cristo pregava o Evangelho do Reino e percorria toda a Galileia curando as mais diversas enfermidades, a fama dos seus milagres divulgou-se por toda a Síria, e de toda a Judeia afluíam grandes multidões ao médico divino.

Porque a ignorância humana é tão lenta para acreditar no que não vê e esperar o que não conhece, era necessário que aqueles que deviam ser confirmados nos ensinamentos divinos fossem estimulados com benefícios corporais e milagres visíveis; e assim, experimentando o poder benéfico do Senhor, não duvidariam da sua doutrina salvadora.

Por isso o Senhor, para converter os dons exteriores em medicina interior e passar da cura dos corpos à saúde das almas, separou-Se das multidões que O rodeavam e subiu para um lugar isolado de um monte próximo, levando consigo os Apóstolos a fim de os instruir nos mais sublimes ensinamentos.

O Senhor que ensina

Sentou-Se no alto da sua cátedra mística, querendo significar, com o lugar escolhido e com a atitude tomada, que Ele era o mesmo que outrora falara a Moisés, também num monte isolado; mas enquanto noutros tempos fizera sentir a severidade da justiça, agora manifestava a sua íntima bondade, para cumprir o que tinha anunciado por meio do profeta Jeremias:

“Dias virão, diz o Senhor, em que firmarei com a casa de Israel e com a casa de Judá uma nova aliança. Depois daqueles dias, diz o Senhor, hei de imprimir a minha lei no seu coração e gravá-la no íntimo da sua alma”(Jr 31,33).

Portanto, Aquele que falara a Moisés dirigia-se agora aos Apóstolos; assim a mão veloz do Verbo ia gravando nos corações dos discípulos os mandamentos da Nova Aliança, não como outrora, rodeado de densas nuvens e com trovões e relâmpagos que atemorizavam o povo e o mantinham afastado do monte, mas entretendo-Se com os presentes em tranquila e afável conversação.

Deste modo, a suavidade da graça substituía a aspereza da lei e o espírito de adoção filial afastava o temor servil.

A Palavra que santifica

Então, a doutrina de Cristo tornava-se manifesta pelas suas mesmas palavras; com elas o Senhor queria declarar os diversos graus que devem subir aqueles que desejam chegar à bem-aventurança eterna.

Bem-aventurados os pobres em espírito, diz o Senhor, porque deles é o Reino dos Céus.

A que espécie de pobres se referia a Verdade, talvez ficasse incerto se dissesse apenas: Bem-aventurados os pobres, sem nada acrescentar sobre o gênero de pobreza de que falava. Poder-se-ia pensar que, para merecer o reino dos Céus, bastaria apenas aquela indigência material que muitos padecem por triste e dura necessidade.

Mas ao dizer: Bem-aventurados os pobres em espírito, o Senhor manifesta que o reino dos Céus pertence àqueles que são pobres mais pela humildade interior do que pela carência de bens exteriores.

Início do Sermão de São Leão Magno, papa, sobre as Bem-aventuranças
(Sermão 95, 1-2: PL 54, 461-462) (Sec. V)

Segundo Fonte de Evangelho Quotidiano

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