Apelo a uma vida mais real
Não é segredo para ninguém que vivemos em uma sociedade “fast-food”, e não só no sentido de comprar uma comida rápida, mas também onde tudo precisa ser rápido. No mundo das redes sociais, um vídeo com mais de dois minutos é muito, mais de três linhas de um texto sobram. Passamos freneticamente fotos e vídeos no mundo virtual por horas; e para economizar tempo, escutamos áudio na velocidade 2x. Queremos ganhar tempo, e acabamos perdendo-o. Em um lugar onde a conectividade está cada vez mais ao acesso de todos, nos preocupamos em não deixar a bateria de nosso celular acabar e estar conectado a internet, pois isso seria uma tragédia sem precedentes.
Nestes dias vivi uma experiencia que me motivou a escrever estas linhas. Estava em uma rodoviária esperando o ônibus para viajar. Teria que esperar três horas ali e minha bateria já estava acabando. Como qualquer pessoa deste século, comecei a buscar uma tomada onde pudesse dar paz a minha alma, afinal, alguém poderia me ligar, ou mandar uma mensagem importante. Não encontrei nenhuma por ali e já pensava em pedir em alguma lanchonete uma tomada emprestada. Estava neste debate interior quando percebi que ao meu lado estava sentada uma criança, um menino que devia ter entre sete e oito anos, que estava acompanhado pela avó. Estava com um celular nas mãos e começou a pedir que sua avó conseguisse um Wi-Fi para se conectar. Ao perceber que não havia Wi-Fi grátis começou a entrar em todas as redes disponíveis, que obviamente, tinham senha. A criança começou a ficar inquieta, e sua vó lhe disse que para ter internet era preciso pagar um lanche em alguma lanchonete. O menino começou a insistir para que ela comprasse então o lanche. Depois de insistir um tempo, o menino venceu e sua avó foi até a lanchonete fazer a compra. Conseguindo o que queria, ficou tranquilo, imerso no mundo da tela do celular.
Esta situação me fez refletir. A atitude daquele menino se parecia a de um viciado, sua inquietação e insistência era de alguém que realmente “precisava” de internet. Não culpo a ele, mas sim a seus pais, que, com certeza, desde cedo, o acostumaram a estar diante da tela, pois ninguém melhor para distrair e manter em silêncio uma criança que um celular. Mas, também me pergunto, não somos nós também viciados no mundo virtual? Precisamos ser sinceros. Façamos um pequeno exame de consciência. Quantas vezes por dia desbloqueamos nosso celular? Quantas horas passamos nas redes sociais ou no WhatsApp? E mais ainda, qual é a primeira coisa que fazemos ao levantar pela manhã? Talvez não consiga responder a estas perguntas com exatidão, mas seu próprio celular pode fazer isso, já que muitos fornecem um resumo diário e semanal de horas de uso, inclusive oferecendo aplicativos para limitar e diminuir o seu consumo. Neste sentido, se parecem as caixas de cigarro, que vem com uma advertência sobre o risco do seu consumo, e ainda assim, são consumidos. Não, não é um exagero. Não sei se você sabe, mas hoje existem diversas clínicas de reabilitação para pessoas viciadas em celular. Sim, isso mesmo. Usado de forma desequilibrada, essa ferramenta se torna um vício e uma necessidade, como era para aquele menino que encontrei na rodoviária. Mas não quero falar dele, quero falar de você e de mim. Faça um simples teste, proponha-se passar a metade de um dia sem olhar para o celular e perceba como você age, quantas vezes pensa em usá-lo para saber se alguém lhe mandou alguma mensagem ou respondeu alguma que você enviou; ver se alguém curtiu sua postagem, sua foto ou vídeo. Perceba se consegue manter-se afastado dele durante essas horas com tranquilidade. Acredite em mim, você pode se surpreender com o resultado.
Mas não pense que com isso desejo pregar um mundo sem celulares; seria tolice de minha parte, pois, de várias formas, são auxílio para o nosso dia-dia. Mas devo lembrar que nesta relação com o celular, nós somos superiores, e não ao contrário. Nós somos os donos, e eles, simples objeto. Não pode ser diferente, mas com frequência, é. O que podemos fazer então? Bom, comecemos por nós. Sejamos mais livres das redes sociais, incluindo aplicativos de mensagem instantânea, como o WhatsApp. Vivamos mais no mundo real. Se precisar falar com alguém, ligue. Se desejar contar alguma coisa, mande um e-mail. Fazendo isso, perceberá que ganhará mais tempo para fazer outras coisas. E lembre-se, você não precisa saber tudo o que as pessoas fazem, e nem elas precisam saber o que você faz. As vezes é necessário um pouco mais de privacidade. Nem tudo precisa ser registrado no mundo virtual. Enfim, obrigado por chegar até aqui nesta leitura, isso já é um bom sinal de que nem tudo está perdido. Gostaria de escrever mais, porém deixo para outra oportunidade. Espero que este texto ajude a melhorar um pouco sua vida. Também estou neste processo.
Deus abençoe,
Pe. Luís Fernando
0 Comments