“Por causa d’Ele perdi tudo e considero tudo como lixo a fim de ganhar Cristo e ser encontrado n’Ele!” (Fl 3,8-9).

O sentido da Porta do Lixo

A Porta do lixo, de que fala o Profeta Neemias no texto 3,14, era a porta da cidade Santa pela qual saía o lixo. Ela estava do lado sul do muro de Jerusalém, em frente ao Vale do Hinom.

Ali havia a descarga do lixo da cidade onde um fogo ardia constantemente: a “Geena” a que Jesus frequentemente se referia ao falar do juízo final: “Onde haverá choro e ranger de dentes” (cf. Lc 13,28). Precisamos renunciar a tudo o que nos impede de conhecer o amor de Cristo e a nossa comunhão com Ele.

Qual, então, o sentido espiritual da restauração da “porta do lixo”? A porta do lixo existe para tirar fora o lixo da cidade, nunca para deixá-lo entrar.

Neste tempo em que escolhemos assumir a decisão de viver a “restauração”, necessitamos ser conscientes de que é tempo de uma firme decisão, decisão “violenta”.

Ou eu tiro o lixo da minha vida para queimá-lo na Geena, ou este “lixo” vai transformar em lixo a minha própria vida pessoal e comunitária, e, então, serei jogado como lixo na Geena, onde haverá fogo e ranger de dentes!

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Nada de vida medíocre

Cada um de nós não foi criado para evitar pecados ou libertar-se dos vícios. Fomos criados para a santidade: “Esta é a vontade de Deus, a vossa santificação!” (1Ts 4,3).

“Por causa d’Ele perdi tudo e considero tudo como lixo a fim de ganhar Cristo e ser encontrado n’Ele!” (Fl 3,8-9).

Não fomos feitos para uma vida medíocre, mas para uma alegria gloriosa, eterna, transbordante que não se pode explicar: esta alegria é Cristo! (Cf. 1Pd 1,8). Preciso continuamente vigiar “na porta” da minha mente, pelo discernimento espiritual, que me permite “rejeitar o mal e aderir ao bem”.

1. Rejeitar o mal como veneno mortal de Satanás.

O nosso querido Pe. Léo, tão conhecido no Brasil, dizia que o demônio sempre nos presenteia com dois dons: a feiura e a tristeza e, eu acrescento, com o fedor! O mal fede como o lixo.

Quantas vezes, na libertação dos exorcismos, percebe-se um fedor nojento como que de enxofre, podridão, esgoto.

Enquanto a Palavra nos convida a sermos o “bom odor de Cristo” (Cf. 2Cor 2,15), o pecado sempre apodrece nossa vida e relacionamentos, gera desordem, sujeira, contamina, infecciona, assim como o lixo gera mofo, bichos, baratas, ratos: infesta o ambiente.

São Paulo nos diz que quem peca, peca cada vez mais. No texto da Carta aos Romanos 1,18ss ele lista mais de 27 pecados que vão se acumulando como fermento de morte naqueles que “vangloriando-se de ser sábios, tornavam-se tolos… e adoravam e serviam a criatura em lugar do Criador” (cf. Rm 1,22-25).

O apóstolo, também nos ensina que a “idolatria” (ausência da Presença de Deus na nossa vida) é a fonte de todo pecado. Ao contrário “ao fim de ganhar a Cristo e ser encontrado n’Ele” ele está disposto a perder tudo e tudo jogar fora como lixo.

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Não tolerar o pecado

É lixo tudo o que se opõe ao conhecimento do Senhor. Lixo é perder tempo, ter uma vida vazia de conhecimento da Palavra, vazia de caridade, daquele Amor que recebo do alto e me impulsiona a não viver mais para mim mesmo!

Lixo é o mundanismo dos programas, músicas, palavras maliciosas que vão contaminando aos poucos a minha vida, afastando-me do Senhor, do Seu amor misericordioso e apaixonado.

“Por causa d’Ele perdi tudo e considero tudo como lixo a fim de ganhar Cristo e ser encontrado n’Ele!” (Fl 3,8-9).

Buscar a santidade significa ter “tolerância zero”, não apenas com o pecado, mas também com toda ocasião de pecado… pois sabemos que “casa vazia é oficina do diabo”!

Lembro-me de um padre amigo que no carro sempre escutava músicas mundanas, às vezes maliciosas. Apesar de tê-lo alertado continuou com estas atitudes. No fim se envolveu num relacionamento errado com uma mulher e só pela graça de Deus não deixou o sacerdócio.

Converteu-se, jogou fora este “lixo” do seu coração e voltou à intimidade com o Senhor, confiando na Sua Misericórdia. Preciso sempre vigiar: o maligno é sorrateiro, mentiroso e se camufla de anjo de luz.

O pecador “reciclado”

O lixo, na vida espiritual, é para ser jogado fora sem piedade e ser queimado na Geena. Deus não “recicla” o pecado, mas o pecador, para que não se perca eternamente.

Precisamos vigiar, pois nossa sociedade consumista não apenas tem contaminado de lixo e escórias a terra e a natureza como nunca na história da humanidade, gerando imensos desastres ambientais e enfermidades sem fim¹, mas também tem contaminado, como nunca, a nossa alma com a  impureza, a corrupção, a violência, as drogas, o adultério, a pornografia, os homicídios, os suicídios, o aborto, acostumando-nos às guerras, às injustiças, à indiferença que mata, ao relativismo que torna a vida um inferno.

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2. Apegar-se ao bem com ardor.

Eu creio na força do bem e sei que o bem é contagioso. O mundo tem uma necessidade louca de vida, de esperança, de salvação. Os homens do nosso tempo, como nunca, querem, precisam “Ver Jesus” (cf. Jo 12,21).

A começar de mim, preciso ser íntimo do Senhor, acolher o Seu Espírito que é o Amor do Pai derramado no meu coração (cf. Rm 5,5).

Preciso renunciar ao mal queimando continuamente todo pecado no Sacramento da Misericórdia, sem medo, sem desânimo, pois Deus nunca desiste de perdoar e consumir, na fornalha ardente do Seu Coração, o lixo do meu pecado, para que eu seja livre da Geena e não queime nela eternamente.

Preciso começar das pequenas coisas, que “casa vazia é oficina do diabo”, e que o lixo se acumula onde há espaço ocioso, criando desordem, sujeira, bichos.

Posso recomeçar a rever o uso do meu tempo, a ordem do meu quarto, das minhas coisas, eliminando tudo o que acumulo no meu egoísmo, que é supérfluo para mim e necessário para os outros!

“Por causa d’Ele perdi tudo e considero tudo como lixo a fim de ganhar Cristo e ser encontrado n’Ele!” (Fl 3,8-9).

Não esqueça: Basta pouco para perder tudo! Mas basta um só momento para renascer na Misericórdia do Senhor!

Passe você também por esta porta com confiança infinita. Jesus o ama e o perdoa, sempre!

Nunca esqueça disto!

Deus te abençoe!

Pe. João Henrique

Fundador da Aliança de Misericórdia