A EUDAIMONIA
Continuando nossa jornada em direção a uma vida virtuosa, terminamos nosso último texto dando uma definição das virtudes segundo o Catecismo da Igreja Católica. Vimos também que para a filosofia grega clássica, o fim da vida humana é a felicidade e ela só pode ser conquistada através de uma vida virtuosa. Neste sentido a virtude é o caminho para uma vida excelente, por isso também a palavra virtude vem de “areté” que em grego significa excelência. É interessante pensar que para a filosofia aristotélica, a meta da vida humana é o que se costuma traduzir por felicidade, mas o termo usado pelo filósofo é “Eudaimonia” (εὐδαιμονία), que significa “bom daimon”. Sim, é o que você está pensando. A expressão “daimon” depois daria origem a palavra demônio, mas fique tranquilo, não há nada maligno na eudaimonia de Aristóteles. O termo daimon tem várias interpretações, mas é comumente entendido como uma espécie de ser intermediário entre os deuses e os homens.
A partir do pensamento de Sócrates, no século V a.C, esse conceito começou a ser usado como uma espécie de gênio interior, um espírito que guiava o homem em suas decisões. Se tratava, em definitiva, da própria razão que conhecia o bem e se dirigia para ele. Segundo Sócrates, quando o homem conhecia o bem através da razão, ele seria naturalmente levado a possui-lo, já que seria conduzido por esse bom espírito em seu interior. Mas talvez você agora esteja se perguntando: e como é possível que algumas pessoas conheçam o bem e ainda assim pratiquem o mal? Como resposta, Sócrates dirá que quando um homem praticava o mal, era porque sua razão o dizia que aquilo que praticava era um bem, pois ninguém praticaria o mal se soubesse racionalmente se tratar de um mal. Por tanto, a vida bem-sucedida era uma vida guiada pela própria reta razão.
Partindo disto, Aristóteles dirá que a eudaimonia era a meta de todo ser racional, que se deixava guiar pelas virtudes até chegar a plena realização. Por tanto, este “daimon”, para ele, era a plena realização daquilo que a pessoa humana poderia fazer. Muito bem, mas o que é preciso fazer para alcançar esta eudaimonia? Aristóteles dirá que a aquisição das virtudes é conquistada pela repetição. Isso mesmo. É preciso entender que a virtude é um hábito, e dizemos que alguém tem o hábito de fazer isso ou aquilo depois de uma série de repetições. Não é mesmo? Voltemos ao exemplo da música para exemplificar. Pense em alguém que executa de forma perfeita uma música em um piano. Se você perguntasse como ela conseguiu isso, com certeza a resposta seria: praticando. Quando você vai a um concerto musical ver alguém tocando um instrumento, não imagina quantas repetições ela precisou fazer daquela mesma música até chegar à perfeição. Por tanto, foi a repetição que a tornou excelente no que fazia. A repetição tornou aquela ação, (tocar um instrumento), um hábito. Dizemos popularmente que algo se torna um hábito quando somos capazes de fazer aquilo “com os olhos fechados”, pois já se torna algo “fácil” de fazer. Pense em algo que você faz com os olhos fechados e responda a essa pergunta: sempre foi assim? Eu sei que a resposta é não, pois no começo foi preciso esforço e repetição, e você pode perceber sua evolução, como aquilo ia se tornando mais fácil com o passar do tempo.
Uma última asseveração necessária é que a virtude é uma conquista do homem disciplinado, pois sem disciplina ninguém consegue progredir na aquisição de um hábito. Pense mais uma vez no exemplo da música. É possível que alguém que deseje tocar piano com perfeição não se dedique disciplinadamente na repetição da arte da música? Quanto mais ele se dedicar, mais rápido aprenderá, certo? Agora, transfira isso para o mundo das virtudes. Funciona da mesma forma. Quanto mais um homem pratica ações virtuosas, mas habituado ele estará aquilo, o que com o passar do tempo se tornará um hábito, ou seja, será quase natural a ela agir desse modo e evitar o seu oposto. Terminaremos por aqui por hoje, mas no próximo texto queremos falar um pouco sobre a disciplina, já que sem ela nosso caminho se tornará mais difícil, para não dizer impossível. Até a próxima. Vamos juntos.
Deus te abençoe.
Pe. Luís Fernando Cardoso Viana
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