O hino Veni Creator Spiritus foi composto no século IX, provavelmente por Rábano Mauro, monge beneditino e arcebispo de Mainz. Ainda que essa autoria não seja absolutamente certa alguns atribuem sua criação a Santo Ambrósio ou mesmo a São Gregório Magno, o mais importante é o valor teológico e espiritual que ele carrega.

Escrito originalmente em latim, o hino foi introduzido na liturgia da Igreja para momentos particularmente solenes: ordenações episcopais, consagrações religiosas, sínodos e, principalmente, na celebração de Pentecostes, quando a Igreja recorda o envio do Espírito Santo sobre os apóstolos reunidos no Cenáculo (cf. At 2,1-4).

Um cântico profundamente bíblico

Cada verso do Veni Creator é impregnado de referências bíblicas. O Espírito Santo é chamado de “Criador” (cf. Sl 103,30), “Paráclito” (cf. Jo 14,26), “fonte viva” (cf. Ap 22,1), “fogo” (cf. Lc 12,49) e “amor” (cf. Rm 5,5). Ele é também reconhecido como o doador dos sete dons do Espírito descritos em Isaías 11,2-3: sabedoria, entendimento, conselho, fortaleza, ciência, piedade e temor de Deus.

Essa riqueza teológica não é apenas para contemplação: é um verdadeiro convite à oração, à abertura do coração e à transformação interior. A oração do Veni Creator pede que o Espírito ilumine a mente, inflame os corações com amor e afaste o mal, conduzindo os fiéis pela graça divina.

A importância litúrgica do Veni Creator

Dentro da Liturgia das Horas e da Missa, especialmente na solenidade de Pentecostes, o hino ocupa lugar de destaque. Ele também é usado no início de concílios e importantes decisões da Igreja, marcando a busca por discernimento sob a luz do Espírito Santo. Nas ordenações episcopais, é tradição que os fiéis e os ministros invoquem o Espírito com esse canto antes da imposição das mãos.

Além disso, segundo o Manual das Indulgências, os fiéis que recitarem ou cantarem o Veni Creator em comunidade, de forma solene, no primeiro dia do ano ou na solenidade de Pentecostes, podem receber indulgência plenária, sob as condições habituais: confissão sacramental, comunhão eucarística e oração pelo Papa.

O Veni Creator não apenas modelou a liturgia, mas também inspirou coragem e fé em momentos de perseguição. Um exemplo tocante são as bem-aventuradas carmelitas de Compiègne, martirizadas durante a Revolução Francesa. A caminho da guilhotina, elas cantaram este hino, entregando suas vidas a Deus com confiança e serenidade. Suas últimas palavras e gestos foram marcados pela paz que só o Espírito Santo pode conceder.

O Veni Creator no Conclave:

Uma das ocasiões mais solenes em que o Veni Creator Spiritus é entoado é no início de um Conclave, o processo reservado para a eleição de um novo Papa. Antes de se encerrarem na Capela Sistina, os cardeais eleitores cantam este hino em latim, invocando com humildade e fé a presença e a ação do Espírito Santo para que Ele conduza, com sua luz e sabedoria, a escolha do sucessor de São Pedro. Este momento simboliza a total entrega da Igreja à vontade divina e expressa a confiança de que não é apenas uma decisão humana, mas um discernimento espiritual. O canto do Veni Creator no Conclave é um testemunho de como a Igreja continua, ao longo dos séculos, a confiar no Espírito Criador como guia seguro em suas decisões mais importantes.

Hino Veni Creator Spiritus – Latim

Veni, Creator Spiritus,
mentes tuorum visita,
imple superna gratia
quae tu creasti pectora.

Qui Paraclitus diceris,
donum Dei altissimi,
fons vivus, ignis, caritas
et spiritalis unctio.

Tu septiformis munere,
digitus paternae dexterae,
tu rite promissum Patris,
sermone ditans guttura.

Accende lumen sensibus,
infunde amorem cordibus,
infirma nostri corporis
virtute firmans perpeti.

Hostem repellas longius,
pacemque dones protinus;
ductore sic te praevio
vitemus omne noxium.

Per te sciamus da Patrem,
noscamus atque Filium;
te utriusque Spiritum
credamus omni tempore.

Deo Patri sit gloria,
et Filio, qui a mortuis
surrexit, ac Paraclito,
in saeculorum saecula. Amen.

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Hino Veni Creator Spiritus – Português

Ó vinde, Espírito Criador,
as nossas almas visitai
e enchei os corações
com vossos dons celestiais.

Vós sois chamado o Intercessor,
do Deus excelso o dom sem par,
a fonte viva, o fogo, o amor,
a unção divina e salutar.

Sois doador dos sete dons,
e sois poder na mão do Pai,
por ele prometido a nós,
por nós seus feitos proclamais.

A nossa mente iluminai,
os corações enchei de amor,
nossa fraqueza encorajai,
qual força eterna e protetor.

Nosso inimigo repeli,
e concedei-nos vossa paz;
se pela graça nos guiais,
o mal deixamos para trás.

Ao Pai e ao Filho Salvador,
por vós possamos conhecer.
Que procedeis do seu amor,
fazei-nos sempre firmes crer.
Amém.