Pedro: um retrato da nossa humanidade alcançada pela misericórdia de Deus
Lutando contra os medos e as dúvidas
Em cada mês deste ano, tivemos a graça de contemplarmos as maravilhas de Deus na vida de tantos homens e mulheres que são apresentados na Palavra de Deus, que nos apontam para os caminhos de santidade. E, sem dúvidas, para um verdadeiro processo de vida espiritual.
Neste mês, quero propor uma meditação a partir da figura do apóstolo Pedro, convidando-nos a uma abertura aos desejos de Deus que nos promete uma vida transformada “se crermos nEle” e “amá-Lo” com tudo o que temos e somos (cf. Dt 6,5).
“Eu vos darei um coração novo, e porei dentro de vós um espírito novo. Tirarei da vossa carne o coração de pedra, e vos darei um coração de carne” (Ez 36,26)
O que significa ser transformado, possuindo um coração de carne, porém, cheio da presença do Espírito? Veja, todos nós carregamos o desejo por uma vida melhor, porém, carregamos dentro de nós limites, fraquezas, fragilidades.
Protegendo-se de decepções
Quando éramos crianças, vivíamos as fragilidades e dependências de uma criança: comida, abraço, atenção, e etc. Ao nos tornarmos adultos, experimentamos outra realidade da vida, tentamos defender-nos ou livrar-nos destes limites, fraqueza ou fragilidade.
Frequentemente, quando não nos sentimos amados, nos tornamos duros, fechados, como uma forma para não sofrermos e tentarmos convencer-nos que não precisamos deste tal amor não recebido. Da mesma forma, acontece quando nos sentimos traídos, desapontados.
Deparamo-nos com certos acontecimentos da nossa existência que não oferecem respostas, e imediatamente nos isolamos cada vez mais, e dizemos: “é melhor viver independente, sozinho… assim, não teremos problemas”.
Deve ficar claro que nenhum de nós nasce mau, nenhum de nós nasce com um coração de pedra. Normalmente, é a vida que nos apresenta situações difíceis, levando-nos a sermos duros conosco mesmo. Porém, o mal de tudo isso é que não nos fechamos apenas em nós mesmos, mas também com os outros.
“Eu vos darei um coração novo, e porei dentro de vós um espírito novo. Tirarei da vossa carne o coração de pedra, e vos darei um coração de carne” (Ez 36,26)
As contradições de Pedro refletem as nossas
Nos textos dos Evangelhos, a figura de Pedro é uma das mais contraditórias. Ele oscilava numa instabilidade que ia desde os picos mais altos da coragem até ao alto grau de covardia, negando o Seu próprio mestre. Com a mesma velocidade que reconhecia Jesus como o Filho de Deus e a Ele professava a fidelidade, retrocedia e tropeçava em suas próprias palavras.
De verdade, a imagem de Pedro reflete as nossas contradições, tornando-se um retrato fiel da nossa humanidade. Dessa forma, dentre muitos textos que nos apontam para o trajeto de Pedro como discípulo de Jesus, o texto do Evangelho de Mateus, em 14, 22-36, me parece nos ajudar a refletir sobre o tema que propus: “a luta contra os medos e as dúvidas”.
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Não pelas nossas forças
Quero chamar a atenção, sobretudo, no que diz respeito a expressão de Pedro: “Senhor, salva-me”. Veja que Pedro faz uma experiência com Jesus. Ele pede a Jesus para caminhar nas águas. Mas ele tem medo.
Ele acreditou mais na tempestade do que em Jesus. E, consequentemente, em alta voz, pede ao Senhor que o salve. Será preciso chegarmos ao “fundo do mar” violento, para compreender que sozinhos não podemos nos erguer da escuridão que existe dentro de nós?
Queridos, não são somente as nossas técnicas, os nossos esforços, a nossa vontade, a nossa inteligência. Tudo isso ainda não é suficiente. Não podemos caminhar ou fazer nada sozinhos. Lembremo-nos das palavras de Jesus: “sem mim nada podeis fazer” (Jo 15,5). Sem dúvidas, precisamos pedir a Deus uma coisa: que transforme o nosso interior e nos dê um novo coração.
Ou melhor, podemos dizer como Pedro: “salva-me, Senhor”. Mesmo que seja um grito do nosso sofrimento e da nossa fraqueza, mas digamos com força e humildade: “Jesus, só você pode me salvar”. Se formos humildes, então, avançaremos.
“Eu vos darei um coração novo, e porei dentro de vós um espírito novo. Tirarei da vossa carne o coração de pedra, e vos darei um coração de carne” (Ez 36,26)
As controvérsias da vida
No caminho espiritual, devemos ser conscientes da nossa realidade. Conhecer-se é um processo que dura toda a vida, exigindo de nós uma atitude simples, humilde e paciente. Quantas vezes nós queremos ir tão alto e rapidamente caímos nas profundezas, muitas vezes decepcionados, envergonhados, feridos.
Às vezes, falamos coisas bonitas e profundas para Deus e depois tropeçamos em nossa língua e blasfemamos até contra Ele. Cheios de alegria e fervor em momentos particulares da vida, prometemos inabalável fidelidade, mas, como Pedro, caímos na vergonhosa covardia.
Por um momento, parece que somos donos de uma fé perseverante, confiante, e em outro momento afundamos nas águas tempestuosas da incredulidade. O que Pedro representa? É isso que nós somos! Assim, peçamos um coração novo e acreditemos no que promete o Senhor:
“Eu vos darei um coração novo, e porei dentro de vós um espírito novo. Tirarei da vossa carne o coração de pedra, e vos darei um coração de carne” (Ez 36,26)
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Aceitar a cruz
Diante de alguns dos traços do comportamento de Pedro que tentei sublinhar para cada um de nós neste tempo, quero convidá-los a voltarmos às palavras de Jesus, que convida cada um daqueles que por Ele foram chamados: viver e aceitar a cruz que HOJE temos, que vemos nos outros e somos convidados a vivermos para os outros.
Queridos, não devemos acreditar que nunca haverá problemas. Isso nunca acontecerá! Vamos aceitar a cruz das nossas vidas e carregá-la com alegria. Assim, o coração de pedra desmorona e aceitamos os outros como nossos, e não simplesmente outros. Vamos viver neste mistério de amor (cruz). Deus nos ama e com Ele podemos viver tudo.
Este é o novo coração que o Espírito cria em nós: UM CORAÇÃO ABANDONADO NA MISERICÓRDIA INFINITA DO PAI. A tríplice provocação de Jesus a Pedro em Jo 21, 15-17, é a prova de que o Senhor não desistiu deste homem fraco, dando a Ele a oportunidade de ir além das suas misérias e decepções. Pedro, escolhe abandonar-se unicamente no amor misericordioso de Jesus capaz de dar ao homem a dignidade perdida. Ele também não desistirá de você!
É um Pentecostes de Misericórdia! Mesmo fracos, experimentamos a presença constante do Espírito que nos fortalece, nos colocando de pé e oferecendo ao mundo um retrato fiel da nossa humanidade alcançada pela misericórdia de Deus.
Coragem! Os abençoo!
Pe. Antonello Cadeddu
Fundador
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