Sem oração não há solução!

Puerto Ordaz, 26 de setembro de 2019

“Dai-me um homem de oração e ele será capaz de tudo” (São Vicente de Paulo)

O que é uma oração sincera

Um dos segredos da nossa vida espiritual é entender que somente a oração nos santifica, e não somente as orações “comuns”, como o terço, liturgia das horas, adoração e meditação da palavra, pois o que nos santifica não é a norma, o dever, mas o desejo de ir além.

O que significa isso? Significa que preciso transformar minhas orações diárias em momentos de meditação e contemplação; é preciso viver uma oração de intimidade com Deus e esta oração nasce quando eu procuro silenciar e recolher-me para estar atento ao que Deus quer me falar.

Santa Teresa de Jesus define a oração como uma conversa entre amigos, o qual sabemos que este amigo nos ama.

Deus me ama

Em outras palavras, significa primeiramente entender que Ele me ama, que Ele se interessa por mim e sempre toma a iniciativa, está sempre falando comigo. Reconhecer este Amor me faz desejar retribuir este amor, pois como dizia também São Bernardo: “Amor se paga com amor”.

O fruto desta oração de intimidade é a nossa entrega na missão, já que na medida em que vamos crescendo com os atos de fé, cresce nossa esperança e nossa caridade se torna divina.

Quando vivemos esta intimidade com Deus, todas as nossas orações são oportunidades de encontro com este Amigo.

Assim, nosso terço, meditação da palavra e qualquer outra oração que possamos fazer, é feita por amor e não por rotina e obrigação.

Desejo de estar com Deus

Dou um exemplo para que fique mais claro. Há alguns dias, levado pela “rotina” de *adorar todos os dias, entrei na capela; era sexta-feira.  (*Os missionários de vida têm por norma uma hora de adoração eucarística por dia)

Saiba mais: Conheça mais sobre a Espiritualidade da Aliança

Depois de uns 10 ou 15 minutos ali, me lembrei que já tinha feito adoração de madrugada naquele dia. Imediatamente minha oração ficou dispersa e depois de alguns minutos, saí da capela, pois para mim “já tinha cumprido meu dever” naquele dia.

Esta atitude me fez refletir que minha adoração diária ainda estava sendo mecânica e de rotina. Não entro na capela porque quero conversar com meu Amigo ou simplesmente reclinar minha cabeça em Seu coração, mas porque a minha Comunidade me pede.

O segredo dos Santos

Há alguns anos escutei em uma pregação que “sem oração não há solução”. Como entender esta frase? A oração é o segredo dos santos, uma oração sincera, que brota do mais profundo de nosso coração e não está presa à rotina ou o simples dever.

No livro de Esdras, durante a reconstrução do templo de Jerusalém, aparece uma oração feita pelo sacerdote antes da leitura do livro da lei. Esta leitura nos ajuda a entender que só existe uma oração que agrada o coração de Deus: a oração sincera. Meditando sobre isso, podemos pensar na vida de São Pedro.

Jesus o chamou a ser pescador de homens depois de sua confissão como pecador: “Afasta-te de mim, Senhor, pois sou um homem pecador”. Apesar disso, Jesus lhe disse: “Não temas, desde agora serás pescador de homens!”

Como é possível, uma pessoa ser “promovida” depois de reconhecer sua incapacidade?

Somente a graça de Deus é capaz disso. Depois de acompanhar e testemunhar a vida pública de Jesus, na última ceia, Pedro, que ainda carregava máscaras, diante do anúncio da traição, afirma: “Senhor, darei minha vida por Ti!”.

Imagino Jesus pensando: “Ah Pedro, ainda não me amas o suficiente ao ponto de dar tua vida por mim. ‘Em verdade te digo, hoje mesmo, antes que o galo cante, me negarás três vezes”. Grande dor causaria ao coração de Pedro, ver essas palavras se cumprindo e, ao ver Jesus sendo condenado, negar que O conhecia.

Como é possível? Aquele que até algumas horas antes pensava ter a força suficiente para dar a vida por Ele, agora se encontra negando que O conhece! Grande miséria do coração de Pedro que atraiu o oceano da misericórdia de Deus.

Tu me amas?

Pedro fugiu, quis abandonar tudo e voltar à sua vida velha. “Vou pescar”, disse ele aos discípulos, porém, não esperava que Jesus fosse ao seu encontro, preparando uma fogueira à beira do lago para curar seu coração ferido pela dor da traição. Jesus lhe perguntará: “Simão, filho de João, tu me amas?”.

Sabemos que Jesus estava pedindo a Pedro o amor em seu maior nível, amor Ágape, de adoração e entrega total, aquele mesmo que Pedro pensava ter antes da Paixão. Porém, a resposta de Pedro não foi a mesma, desta vez havia sinceridade em seu coração: “Sim, Senhor, tu sabes que eu gosto de Ti”.

Pedro havia baixado o nível, de Ágape para Philos, amor de amizade, pois sabia pela experiência, que não era capaz de dar mais. Essa era a resposta que Jesus esperava, resposta que agradou Seu coração, tanto assim, que diz: “Apascenta meus cordeiros”.

Foto: Aachal @vrchh-unplash.

Confissão sincera

Mais uma vez Jesus confirma em Pedro um cargo depois de uma confissão de sua miséria. Mas Jesus ainda precisa ir mais longe e volta a perguntar: “Simão, filho de João, tu me amas?”. Mais uma vez está pedindo o máximo de Pedro. “Senhor, tu sabes que eu gosto de Ti”, responde ele.

Na terceira vez Jesus se abaixa ao nível de Pedro, pois conhece seu interior e sabe que seu coração já está restaurado. “Simão, filho de João, tu gostas de mim?”. Pedro sente a tristeza de ver que não era capaz de dar o que Jesus pedia, porém, não se limita a isso e pela última vez responde: “Senhor, tu sabes tudo, tu sabes que eu gosto de Ti!”

Poderíamos supor que Pedro também diria: “Senhor, Tu sabes que sou fraco, três vezes Te neguei, pensava que era forte, que daria minha vida por Ti, mas fugi, Te abandonei. Mas Tu me conheces, Senhor, sabes que no profundo do meu coração existe o desejo de Te amar. Hoje tenho para Te oferecer meu pecado e miséria, mas sei que posso dar-Te mais, ajuda-me a amar e entregar minha vida por Ti”.

Poderíamos nós também aprender de Pedro esta oração. O que cada um de nós responderia a essa pergunta de Jesus?

O que agrada a Deus

Esta é a sinceridade que agrada o coração de Deus, sinceridade que também deseja dar mais, amar mais, entregar-se mais, porém, sabe ande está e o que pode dar. Neste ponto, acredito que os santos nos inspiram a sempre buscar mais.

Olhar para a vida deles é ter a certeza de que podemos chegar lá, desde que cooperemos com a Graça e façamos nossa parte. Este também é o segredo para um apostolado fecundo.

Como não pensar no que estes homens e mulheres fizeram durante suas vidas? Quantos frutos, conversões, almas levadas para Deus através do sim de cada um? São João Maria Vianney passou anos celebrando a missa sozinho em sua paróquia de Ars, mas também passava mais de dez horas em adoração pedindo a conversão dos seus fiéis.

Os frutos dessa entrega já conhecemos, Ars se tornou uma cidade santa e uma multidão de homens e mulheres acorriam a ela para escutar o Santo Cura de Ars. São João Maria Vianney entendeu que a salvação das almas confiadas a nós custa caro e não há outro caminho senão o da Cruz.

Que Deus nos dê a graça de sermos pessoas de oração e que esta vida de oração nos transforme e nos faça ser mais generosos na caridade, mais desapegados das coisas e de nós mesmos, mais obedientes e castos; eis o fruto da vida de oração verdadeira.

Se não percebemos estes frutos, é sinal de que nossa oração ainda é mecânica, pura rotina e cumprimento da lei pela lei. Em definitiva, “sem oração não há solução”.

Vamos juntos,

Francisco Luís, missionário de vida

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