Por que o cristianismo é a religião mais perseguida da história?

Nunca se perseguiu tanto os cristãos como agora; quem antes era visto como o opressor agora vê seus fiéis sucumbirem pelo ódio e a intolerância religiosa. 

Histórico das primeiras perseguições

As primeiras perseguições aconteceram após o incêndio de Roma, onde Nero precisando de bode expiatório para o incêndio de Roma culpou os cristãos por tal desastre.

Muitos cristãos foram torturados e mortos e em todo canto do Império haviam ações de repressão aos que professavam a fé em Cristo.

“Se o rio Tigre chega às paredes, se o rio Nilo não cobre os campos, se o céu não se move ou se a terra o faz, se há fome, se há praga, o brado é rápido: ‘Os cristãos aos leões!'”, escreveu Tertuliano, o teólogo (160-220).

A segunda grande perseguição aconteceu em 250, onde o imperador Décio ordenou que quem não fizesse os sacrifícios aos deuses deveria ser preso ou executado.

Mulher cristão com seu filho e atacada por leão
Mulher cristão com seu filho e atacada por leão.

A última e mais sangrenta perseguição aconteceu sob o imperador Diocleciano, que determinou a perseguição dos cristãos no dia 23 de fevereiro de 303, quando ordenou a destruição da Igreja de Nicomédia (atual Turquia).

Seria o fim?

A data foi escolhida por ser dedicada ao deus romano Térios, o deus das fronteiras, para simbolizar o fim do cristianismo no Império Romano.

No dia seguinte assinou um edito determinando a destruição de todas as igrejas, assim como seus objetos de culto e escritos sagrados, confisco de bens e reclusão dos bispos e sacerdotes que se recusassem a adorar os deuses do panteão romano.

Outros editos foram promulgados para intensificar a ação de varrer o cristianismo de todo o território do império.

Cada província porém, aplicava os editos de acordo com sua realidade; houve prisões e condenações à morte principalmente nas províncias mais orientais do império (Ásia Menor). Todavia, o império estava bastante dividido internamente e não tinha a mesma força; as províncias da Gália por exemplo, aplicavam penas mais brandas aos cristãos.

Somente quando Diocleciano, abdicou ao trono em 305 e as perseguições foram suspensas de maneira oficial, porém ainda aconteciam de fato. Somente em 313 o imperador Constantino oficializou o cristianismo como religião oficial do império.

Por que acabar com os cristãos? 

Os romanos conviviam bem com as diversas religiões; eles incorporavam os deuses dos povos que eram conquistados e normalmente não impediam o culto. O problema com o cristianismo foi que ele não ficou somente nas classes mais baixas da sociedade; pessoas influentes e intelectuais começaram a se converter à religião do Caminho.

Gravura que representa o martírio dos cristãos em Roma
Gravura que representa o martírio dos cristãos em Roma.

Outro aspecto significativo era que os cristãos passavam a não frequentar os cultos públicos dos deuses de Roma e nem prestavam culto de adoração ao imperador.

A ideia de Diocleciano era de, eliminando os cristãos, restaurar a unidade do império e reabilitar as tradições religiosas; acabar com eles era também um problema político. Constataram porém que, combater os cristãos era mais perigoso do que deixá-los viver, pois quanto mais eram perseguidos mais se multiplicavam.

A religião mais perseguida do mundo

As perseguições não pararam nos primeiros séculos; houveram as perseguições bárbaras e islâmicas do ano 500 a 1500; o período de reforma e contra reforma com conflitos internos e entre reinos (século 1500); perseguição por parte dos iluministas até o século XVIII. Depois houveram 100 anos de paz até o ano de 1917.

Cristãos coptas mortos pelo Estado Islâmico
Cristãos coptas mortos pelo Estado Islâmico.

Este foi o ano da Revolução comunista. Uma doutrina ateísta que misturava conceitos políticos com ambições de alcançar todo o mundo. Foram milhares de mortos por onde regimes comunistas foram erguidos. Até hoje países como China, Coreia do Norte e Vietnã, os cristãos sofrem violentas perseguições.

Hoje outra ameaça aos cristãos é a jihad (a guerra santa) que parte dos islâmicos levantaram contra o que eles chamam de “infiéis”. Milhares de pessoas foram mortas por extremistas em vários países africanos. Em 2016 cerca de 2 milhões de pessoas fugiram da Nigéria (dentre elas cristãos) para fugirem do terrorismo.

Velório de uma das vítimas de atentado no Sri Lanka
Velório de uma das vítimas de atentado no Sri Lanka.

O cristianismo continua sendo a religião mais perseguida do mundo, segundo os números de uma pesquisa feita pelo Centro de Estudos sobre a Cristandade no Mundo. Dados coletados até 2016, falam de 90 mil mortos pelo simples fato de ser cristão.

O cristão no mundo

Por volta do ano 120 um cristão anônimo escreveu uma carta endereçada a um pagão chamado Diogneto. Este era um homem muito culto e estava investigando os cristãos curioso para saber de sua doutrina e de onde vinham sua força e perseverança.

A Carta a Diogneto é um tesouro do cristianismo e que deveria ser lida sempre em tempos de perseguição e sofrimento. Diante dos recentes ataques à igrejas católicas no Sri Lanka e o incêndio em Notre Dame, na França, nós poderíamos ficar com a alma abatida, mas não!

“mas nós pregamos Cristo crucificado, escândalo para os judeus e loucura para os pagãos; mas, para os eleitos – quer judeus quer gregos –, força de Deus e sabedoria de Deus. Pois a loucura de Deus é mais sábia do que os homens, e a fraqueza de Deus é mais forte do que os homens.” (I Cor 1, 23-25)

O sofrimento não nos aniquilará porque nossa força vem do Crucificado, que venceu a morte e tudo renovou. Separe um tempo para ler esta bela carta e meditar no verdadeiro sentido de ser cristão.

CARTA A DIOGNETO

Exórdio

1. “Excelentíssimo Diogneto, vejo que te interessas em aprender a religião dos cristãos e que, muito sábia e cuidadosamente, te informaste sobre eles: Qual é esse Deus no qual confiam e como o veneram, para que todos eles desdenhem o mundo, desprezem a morte, e não considerem os deuses que os gregos reconhecem, nem observem a crença dos judeus; que tipo de amor é esse que eles têm uns para com os outros; e, finalmente, por que essa nova estirpe ou gênero de vida apareceu agora e não antes.

Aprovo esse teu desejo e peço a Deus, o qual preside tanto o nosso falar como o nosso ouvir, que me conceda dizer de tal modo que, ao escutar, te tornes melhor; e assim, ao escutares, não se arrependa aquele que falou.

Homens comuns

[…]

Os cristãos não se distinguem dos demais homens, nem pela terra, nem pela língua, nem pelos costumes. Nem, em parte alguma, habitam cidades peculiares, nem usam alguma língua distinta, nem vivem uma vida de natureza singular.

Nem uma doutrina desta natureza deve a sua descoberta à invenção ou conjectura de homens de espírito irrequieto, nem defendem, como alguns, uma doutrina humana. Habitando cidades gregas e bárbaras, conforme coube em sorte a cada um, e seguindo os usos e costumes das regiões, no vestuário, no regime alimentar e no resto da vida, revelam unanimemente uma maravilhosa e paradoxal constituição no seu regime de vida político-social.

Peregrinos nesta terra

Habitam pátrias próprias, mas como peregrinos: participam de tudo, como cidadãos, e tudo sofrem como estrangeiros. Toda a terra estrangeira é para eles uma pátria e toda a pátria uma terra estrangeira.

Casam como todos e geram filhos, mas não abandonam à violência os recém-nascidos. Servem-se da mesma mesa, mas não do mesmo leito. Encontram-se na carne, mas não vivem segundo a carne.

Moram na terra e são regidos pelo céu. Obedecem às leis estabelecidas e superam as leis com as próprias vidas. Amam todos e por todos são perseguidos. Não são reconhecidos, mas são condenados à morte; são condenados à morte e ganham a vida.

São pobres, mas enriquecem muita gente; de tudo carecem, mas em tudo abundam. São desonrados, e nas desonras são glorificados; injuriados, são também justificados. Insultados, bendizem; ultrajados, prestam as devidas honras.

Fazendo o bem, são punidos como maus; fustigados, alegram-se, como se recebessem a vida. São hostilizados pelos Judeus como estrangeiros; são perseguidos pelos Gregos, e os que os odeiam não sabem dizer a causa do ódio.

A identidade cristã

Numa palavra, o que a alma é no corpo, isso são os cristãos no mundo. A alma está em todos os membros do corpo e os cristãos em todas as cidades do mundo. A alma habita no corpo, não é, contudo, do corpo; também os cristãos, se habitam no mundo, não são do mundo.

A alma invisível vela no corpo visível; também os cristãos sabe-se que estão neste mundo, mas a sua religião permanece invisível. A carne odeia a alma, e, apesar de não a ter ofendido em nada, faz-lhe guerra, só porque se lhe opõe a que se entregue aos prazeres; da mesma forma, o mundo odeia os cristãos que não lhe fazem nenhum mal, porque se opõem aos seus prazeres.

A alma ama a carne, que a odeia, e os seus membros; Também os cristãos amam os que os odeiam. A alma está encerrada no corpo, é todavia ela que sustém o corpo; também os cristãos se encontram retidos no mundo como em cárcere, mas são eles que sustêm o mundo.

A alma imortal habita numa tenda mortal; também os cristãos habitam em tendas mortais, esperando a incorrupção nos céus. Provada pela fome e pela sede, a alma vai-se melhorando; também os cristãos, fustigados dia-a-dia, mais se vão multiplicando. Deus pô-los numa tal situação, que lhes não é permitido evadir-se”.

Com informações de:

RTP Ensina

Biblioteca Virtual de Direitos Humanos da Universidade de São Paulo – USP

Bíblia Católica online

Enciclopédia Wikipedia

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