Amar sem medida – Abril 2017
ABRIL/2017
“Aquele que diz estar na luz, mas odeia o seu irmão, ainda está nas trevas.”
(1Jo 2,9)
Uma noite aconteceu que, logo após a Missa, ministramos um momento de perdão no relacionamento entre pais e filhos. Uma senhora que estava presente, voltando em sua casa, logo preparou a mala para viajar.
O marido ficou espantado e tentava convencê-la de desistir de viajar naquele dia e embarcar somente no dia seguinte, pois já era meia-noite. A senhora insistiu, dizendo que devia partir para se encontrar com o pai que não via há mais de 20 anos.
A verdade era que ela tinha uma profunda mágoa do pai, e uma voz interior lhe dizia para que fosse reconciliar-se com ele. Então, ela viajou! Na madrugada ligou em casa a irmã que disse que o pai estava na UTI e o marido explicou todo o acontecido.
A irmã ficou super feliz porque o pai, bem perto da morte, também quis reconciliar-se com todos os filhos, e estava triste porque faltava somente esta filha que vivia em São Paulo.
Chegando à cidade logo foi levada para o hospital, e quão grande foi a alegria de poder se reconciliar com o pai antes da morte dele, e viver aquele momento abraçada com o pai, na paz do coração. Creio que esta senhora tinha entendido claramente o versículo da carta de João. Não podia dizer estar na luz se odiasse o seu pai.
Viver na Luz
Queridos, o homem é chamado para viver na luz, em Deus. Deus é amor, Deus é luz, Nele não há trevas. Nós somos a sua imagem e semelhança: se nos colocamos frente a Ele, como somos, seremos nós mesmos; se, ao contrário, fugirmos d’Ele, viveremos na escuridão e perderemos a nossa identidade.
Infelizmente, tantas e tantas vezes, o homem está nas trevas e não se dá conta que está vivendo, nas mãos do inimigo, nos braços do mal. O pecado original destruiu, ou melhor, quis apagar esta luz dada por Deus à humanidade.
Adão e Eva estavam felizes no jardim do Éden e “conversavam” tranquilamente com Deus. Viviam um relacionamento perfeito entre os dois e o Pai do céu, mas o orgulho prevaleceu, o divisor “deu conta” de criar dúvidas em ambos, para coloca-los contra o seu Criador e logo perceberam que estavam nus. Porém, não devemos olhar a expressão “nus” no sentido físico.
A Bíblia quer nos dizer que perderam a identidade e o sentido da vida. Estavam na luz e entraram nas trevas. Tudo se tornou divisão, antagonismo, um prevalecer contra outro. O Antigo Testamento logo mostra a consequência desta separação e escuridão. Adão e Eva geraram Caim e Abel e o primogênito invejoso matou o irmão.
Poderíamos dizer que, antes da vinda de Cristo, com o pecado a humanidade entrou nas trevas e, com as trevas, a divisão, o ódio, a hostilidade, a violência, a morte tomaram conta dos homens e caracterizaram seus relacionamentos. Lemos no antigo testamento Deus que expressa com indignação: “não desprezes o homem justo, ainda que pobre; não enalteças um pecado, ainda que rico” (Eclo 10,26).
“Aquele que diz estar na luz, mas odeia o seu irmão, ainda está nas trevas.”
Jesus veio para livrar-nos do mal, destruir as obras do diabo, iluminar a nossa mente e restaurar nosso coração, para voltarmos a ser verdadeira “imagem e semelhança com Deus”.
Ser imagem de Deus significa viver o relacionamento trinitário entre as pessoas, o amor recíproco. Vivendo isso, vivemos na luz e tudo se torna mais claro e luminoso.
A visão da vida recebe outro sentido e tudo se esclarece, pois “quem ama o seu irmão vive na luz” (1Jo 2,10).
Também nos tempos hodiernos experimentamos que se não amamos o irmão as trevas tomam conta do mundo. É somente olhar os jornais: guerras, abortos (mais de um bilhão desde os anos setenta), terrorismo, violências de todo tipo, prostituição, eutanásia, etc.
Imaginem que na Suécia, onde foi aprovada a eutanásia não tem mais vaga nos hospitais, tantas são as pessoas que querem se matar porque não aguentam mais esta vida. Isso é terrível, poderíamos dizer que não há esperança!
Nada disso! No nosso ser interior tem um anseio, desejo, pulsão que nos leva a voltar à luz de Deus. A pessoa humana não fica em paz até que não encontra esta paz interior, a luz de Deus que passa pelo amor aos irmãos.
Sempre fiquei de boca aberta lendo como agiu Jesus com os apóstolos, sobretudo na última ceia antes de instituir a Eucaristia. Eram as suas últimas palavras e ações que ele tinha com aqueles que mais amava, e escolheu aqueles para que fossem seus mais íntimos amigos.
Mas quem Ele tinha a sua frente? Judas Iscariotes que daqui a pouco entregaria Jesus aos sacerdotes para matá-lo; Pedro que o trairia algumas horas depois; João e Tiago que, no caminho para Jerusalém, pediram para ele de poder sentar do seu lado quando se tornasse rei;
Tomé que não acreditou na sua Ressurreição. Todos eles fugiram, no momento em que mais Jesus necessitava. Poderíamos dizer: um verdadeiro fracasso! Jesus, ao invés, transformou aquelas trevas em amor, a Luz do mundo, o Filho do Pai do Céu, se ajoelhou e lavou os pés deles, doando para nós o mandamento: “amai-vos um aos outros como eu vos amei”.
Com a vida quis dizer-nos o caminho para sair das trevas: amar até doer, até o fim, amar dando a vida para os nossos irmãos. Não podemos escapar desta verdade!
“Aquele que diz estar na luz, mas odeia o seu irmão, ainda está nas trevas.”
Creio que todo mundo deseje estar na luz. Os passos são reais e concretos: amar o irmão, sobretudo aquele que mais odeio e que mais me cria repulsa. Amar sem medida, escolhendo aqueles que são (aos meus olhos) “os piores”.
Não precisa fazer exemplos, é só olhar no profundo do meu ser e me perguntar: estou fugindo daqueles que odeio, que são chatos ou querem roubar o “poder” que já conquistei?
O amor me leva a tornar-me próximo daquele que o pecado me faz perceber como “inimigo”, como Jesus que na Cruz orou, pedindo ao Pai que perdoasse os que o mataram, oferecendo para eles a sua vida!
Existe um único inimigo que gera divisão e inimizade entre nós pois, onde falta amor, ele, o “príncipe das Trevas” está presente e reina!
Quando, pelo amor, vencemos a iniquidade e a divisão, as trevas fogem perante a luz, o perdão nos une, nos torna amigos, nos devolve a comunhão originária que “contém e atrai” a Presença de Jesus, Luz do mundo, no meio de nós pois: “Onde dois ou três estão unidos no meu nome Eu estou no meio deles” (Mt 18,19).
Não amar o irmão significa caminhar nas trevas e, prosseguindo nesta escolha da escuridão, iremos cair no buraco da morte, sem esperança. O ódio é um vórtice que nos levará para as trevas do inferno, sem retorno.
Poderia dizer que Madre Teresa de Calcutá foi um exemplo: ela via em todos, de modo particular nos pobres, Jesus, Luz do mundo e a eles servia. Nós devemos fazer o mesmo.
Comece na sua casa, seja luz para o grupo, na sua igreja, no seu trabalho, com seus amigos e inimigos. Tenha certeza, a humanidade procura a luz, mas frequentemente vive na tristeza, escuridão e odeia os outros. Você, ao invés, pode ser portador de luz para muitos, amando sem medida.
Pe. Antonello Cadeddu
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