Os pobres, nossos mestres – Março 2017

Em verdade vos digo que os publicanos e as prostitutas vos precederão no Reino dos Céus!” (Mt 21,31)

Um segredo da vida espiritual é sermos eternos “aprendizes” pois, de fato “nós devemos aprender com todos. Cada homem tem a sua história para contar, o seu mistério para nos revelar, o seu dom para partilhar.

Cada homem tem o seu pecado para confiar, a sua solidão para doar, a sua dor para partilhar, a sua sede para saciar. Cada homem tem uma ferida para ser curada, uma vergonha para ser abraçada, uma dignidade para ser resgatada, uma miséria que invoca Misericórdia…”.[1]

Quem vive assim, vive a vida como uma divina aventura e passa de experiência em experiência, pois sabe contemplar a graça de Deus, que age na história e se manifesta na vida dos homens, especialmente nos pequeninos, nos excluídos, nos marginalizados.

Quem vive assim, como o Papa Francisco não cansa de repetir, deixa-se continuamente “surpreender por Deus”.

Não é por acaso que Jesus, após a volta dos 72 discípulos, contemplando as maravilhas que Deus tinha realizado através da entrega daqueles pobres, pequeninos, humildes, exultou no Espírito Santo e disse:

Eu te louvo o Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondestes estas coisas aos sábios e entendidos e as revelastes aos pequeninos.” (Lc 10,21). É comovente este exultar de Jesus deixa-se surpreender pelo Pai que age nos pequenos!

Poderíamos ler todo o Evangelho nesta ótica: o agir do Pai nos pequenos, nos excluídos… um agir que surpreende, que reverte as nossas categorias mentais e que nos leva a contemplar atentamente, e meditar, todas as coisas no nosso coração, como Maria, a Mãe de Jesus (cf. Lc 2,19).

Ela foi a primeira pequena, da pobre e desprezada cidade de Nazaré, da qual, segundo os Judeus praticantes, não podia sair nada de bom (cf. Jo 1,46), que se surpreendeu pelas “grandes coisas” que o Poderoso realizou em sua vida de jovem mulher. Pensemos que literalmente as mulheres “não contavam nada” no contexto social da época em Israel!

O próprio Filho de Deus quis identificar-se com os pobres, nasceu como forasteiro, desamparado, sem abrigo, na menor das cidades de Judá, Belém.

Conhecer a Deus significa, então, olhar para “baixo”, aprender dos pobres, aos quais Ele se revela!

Aprender do pobre é o maior tesouro de sabedoria! Esta aprendizagem comporta a escolha de não julgar pelas aparências. Só Deus conhece o coração!

O pobre real

Nunca esquecerei a experiência que me levou a deixar tudo, mais uma vez, para seguir com mais fidelidade o Senhor. Na época não podia acolher os pobres na minha casa, devido às orientações dos meus superiores. Aí encontrei, em, debaixo de uma ponte, um paralítico:

Seu Zé. Tinha sido acolhido num mísero barraco, sem telhado, por uma prostituta e um alcoólatra. Havia buscado abrigo com Padres, Irmãs, Pastores, mas ninguém o tinha acolhido… só uma prostituta e um alcoólatra ofereceram para ele o único colchão que tinham! Naquele momento escutei o Senhor repetir-me com força esta Palavra:

Os pecadores e as prostitutas vos precederão no Reino do Céu! ”… pela força desta Palavra, à escola dos pobres, encontrei a coragem de deixar tudo para que, com a Maria Paola e o Pe. Antonello, permitíssemos ao Senhor gerar a Aliança de Misericórdia! À escola do pobre deixemo-nos sempre surpreender e converter por Deus!

Pe. João Henrique e Pe. Antonello Cadeddu

[1]  Do livro “No Oceano da Infinita Misericórdia” – Pe. João Henrique (p. 23).

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